Entenda a reportagem em cinco pontos
- O Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul voltou a crescer acima do nível nacional no segundo trimestre. Houve influência positiva da agropecuária e da indústria;
- A alta do PIB gaúcho foi de 4,7% frente a igual período de 2018. Na comparação com janeiro a março de 2019, o avanço chegou a 1,4%;
- Com o desempenho, a economia gaúcha acumulou alta de 3,8% nos primeiros seis meses de 2019. É o melhor resultado para o semestre em seis anos;
- No restante deste ano, o PIB do Estado deve seguir no azul, mas com ritmo menor;
- A divulgação dos dados foi a primeira do Departamento de Economia e Estatística (DEE). O órgão do governo do Estado substitui a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
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Em tentativa de espantar a herança sombria da recessão, a economia gaúcha voltou a apresentar números positivos. No segundo trimestre deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul teve desempenho superior ao nacional, indicam dados divulgados nesta segunda-feira (14) pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE). Em relação a igual período de 2018, o indicador estadual saltou 4,7%. No mesmo intervalo, o PIB brasileiro avançou 1%.
Segundo o DEE, o Rio Grande do Sul também ficou no azul na comparação com o primeiro trimestre deste ano. A alta foi de 1,4% entre abril e junho – no país, o avanço foi de 0,4%.
Historicamente, o segundo trimestre é o período em que a economia gaúcha sente com mais força os efeitos da safra, o que diferencia o Estado de outras regiões do país. O desempenho da agropecuária, aliás, chamou atenção. Frente ao segundo trimestre de 2018, o setor registrou crescimento de 9,2% no Rio Grande do Sul, colaborando para a elevação de 4,7% no PIB.
Pesquisador do DEE, o economista Roberto Rocha frisou que, entre abril e junho do ano passado, a agropecuária sofreu reflexo da escassez de chuva. Diante da base de comparação enfraquecida, o setor teve crescimento robusto em 2019. Além da atividade no campo, a indústria também influenciou positivamente. Frente ao segundo trimestre de 2018, a atividade nas fábricas subiu 5,7%. Outro setor pesquisado, serviços apontou alta de 2%.
– O grande destaque na comparação com o ano passado foi a agropecuária. A indústria também teve comportamento positivo – sublinhou Rocha. – O Rio Grande do Sul começou a retomada antes do que o Brasil, mas sofreu no segundo trimestre do ano passado com estiagem e greve dos caminhoneiros – acrescentou.
O PIB é a soma das riquezas produzidas por determinada região. Com o desempenho entre abril e junho, o indicador gaúcho acumulou alta de 3,8% no primeiro semestre, frente a igual período de 2018. Conforme o DEE, o crescimento nos seis meses iniciais de 2019 é o maior em seis anos.
Apesar da sequência de números positivos, o resultado foi visto com cautela pelos técnicos responsáveis pela pesquisa. Segundo o DEE, órgão vinculado à Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplag), o PIB está no nível de 2014. Ou seja, ainda não recuperou o patamar anterior à crise econômica.
Projeção de ritmo menor
Rocha pontuou que o Rio Grande do Sul tende a seguir no azul até o final do ano, com desempenho superior ao do país. Apesar disso, salientou que o nível de crescimento deve ser menor nos meses seguintes ao segundo trimestre. Segundo o pesquisador, há indícios de desaceleração em segmentos como a indústria.
– O que vemos é que alguns setores que vinham crescendo muito estão avançando menos – sublinhou Rocha.
Nesta segunda-feira, o Banco Central divulgou o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de agosto. No Estado, a baixa foi de 0,55% frente a julho – o dado nacional ficou 0,07% positivo. O indicador serve para acompanhar o ritmo da economia.
A apresentação do PIB foi acompanhada por economistas. Ex-presidente da Fundação de Economia e Estatística (FEE), responsável pelo cálculo antes de ser extinta, em 2018, Adalmir Marquetti destacou o desempenho da agropecuária e da indústria.
– O Estado deve continuar com taxas superiores às do país. Para esse dinamismo seguir no próximo ano, o Rio Grande do Sul também dependerá das condições da economia brasileira – disse Marquetti, professor da PUCRS.
A economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, apontou que o Estado tende a ser mais beneficiado agora pelo desempenho do setor de serviços: a época de Natal costuma, historicamente, movimentar o comércio.
– Em 2019, temos a liberação de saques do FGTS. Vamos ver como será o comportamento das pessoas com esses recursos. A expectativa é positiva, mas ainda cautelosa – ressaltou Patrícia.
Mudança na divulgação
A divulgação do PIB do segundo trimestre foi a primeira feita pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE). O órgão reúne técnicos que atuavam na Fundação de Economia e Estatística (FEE), extinta no ano passado.
Com o fim da FEE, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), vinculada à Universidade de São Paulo (USP), assumiu a atividade em 2018. À época, a mudança provocou polêmica.
Como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não reconhecia a Fipe como órgão público, rompeu convênio para repasse de números sigilosos. Diante da situação, o governo Eduardo Leite alterou o contrato com a fundação paulista e restabeleceu o acordo com o IBGE. Isso permitiu a transferência do cálculo do PIB para o DEE.
Nesta segunda-feira, durante a apresentação do resultado do segundo trimestre, a secretária estadual de Planejamento, Orçamento e Gestão, Leany Lemos, elogiou a equipe:
– Um corpo de funcionários deste calibre pode produzir conhecimento para a sociedade.
Segundo o DEE, números da série histórica foram revisados.