O cancelamento da venda de parte das ações ordinárias do Banrisul, anunciado nesta quinta-feira (19), reforçou incertezas no mercado financeiro a respeito dos rumos do banco. Ao voltar atrás e encerrar a negociação, o governo do Estado argumentou que o valor oferecido por investidores ficou abaixo do esperado. A situação serviu de combustível para que analistas reforçassem sua leitura de que a venda integral do Banrisul geraria maior retorno financeiro.
Durante a campanha eleitoral, o governador Eduardo Leite prometeu manter o banco público. Na manhã desta quinta-feira, em entrevista coletiva, reafirmou o compromisso, mas abriu brecha para discutir o assunto no Legislativo:
– Nenhuma ação está descartada em relação ao banco, nem outras operações, nem que se faça nada. A questão da privatização é um compromisso que assumimos. Não vejo espaço para que haja a privatização do banco, e continuamos nesse sentido. Se nada mudar no cenário da Assembleia em relação a isso, não haverá disposição desse governo de levar qualquer privatização a efeito.
Na semana passada, o governo comunicou a intenção de vender 96,3 milhões de ações ordinárias, mantendo o caráter público da instituição. Levando-se em conta o valor aproximado de R$ 23 por papel (nível na ocasião), o Estado poderia embolsar, no máximo, cerca de R$ 2,2 bilhões. Na última quarta-feira, antes de anunciar a desistência, o Palácio Piratini reduziu o número de ações que seriam ofertadas para 71,3 milhões.
– O cancelamento demonstra indecisão. Não é comum ocorrer um recuo desse tipo. Transmite mensagem ruim para o mercado. É mais ou menos como dar o negócio como fechado e depois desistir – afirma Alexandre Wolwacz, sócio-fundador do Grupo L&S.
Especialista no setor bancário, o economista João Augusto Salles avalia que, em operações similares à do Banrisul no mercado financeiro, é comum que investidores busquem oferecer preço mais baixo do que o desejado pelos autores das ofertas. No caso específico do banco gaúcho, a visão de analistas de que a instituição deveria ser privatizada também pode ter pesado na definição das propostas, acrescenta o economista.
– O governo buscava deslocar uma parte das ações. Quando um controlador faz uma oferta dessa natureza, joga mais para baixo os preços sugeridos por investidores. Não acontece só com o Banrisul. Paralelo a isso, o que o mercado quer é a privatização do banco – observa Salles.
No primeiro semestre, o Banrisul teve lucro líquido de R$ 655,3 milhões, alta de 29,5% em relação ao mesmo período de 2018. Um dos argumentos usados por analistas do mercado para defender a privatização é de que o banco poderia alcançar ganhos operacionais.
– O cancelamento da venda de ações passou indefinição aos investidores. No mercado, o valor de um banco privado é maior do que o de um público. O principal ganho da privatização seria operacional – aponta Guilherme Macedo, sócio da Vokin Investimentos.
Nesta quinta-feira, Leite também mencionou que o governo não faria a venda de ações "a qualquer preço". O governador ainda comentou que a desistência da operação ocorreu "em defesa dos interesses do Estado".