Doze anos depois de abrir o capital, o Banrisul retornou à bolsa de valores de São Paulo (B3) para realizar oferta expressiva de ações. Nesta terça-feira (17), o governo do Rio Grande do Sul recebeu reservas de investidores para os 96,3 milhões dos 201,2 milhões de papéis ordinários (que dão direito a voto, portanto representam o controle) do banco público.
Até a publicação desta matéria, ainda não se conhecia o resultado do “book building”, que define quais investidores ficarão com que percentual dos papéis ofertados. Está nas regras até a possibilidade de que, diante de pedidos ou preços abaixo do esperado, a operação não vá adiante. É uma hipótese remota, mas possível.
Se evoluir, a operação ensaiada desde o ano passado mantém o controle da instituição no Estado por margem estreita. O Piratini fica com 51,15% dos papéis que dão direito a voto nas decisões. Nesse cenário, amanhã os novos proprietários das ações já podem negociá-las na bolsa, mesmo que a liquidação da transação só ocorra na sexta-feira.
Na semana passada, no momento em que comunicou a oferta de ações à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Banrisul havia estimado que seriam movimentados R$ 2,23 bilhões. Os recursos devem ser utilizados pelo governador Eduardo Leite para o pagamento de dívidas, entre elas repasses atrasados para a saúde e o 13º salário de 2018 do funcionalismo, e abrirá espaço no fluxo de caixa para que os salários dos servidores sejam colocados em dia.
Interesse
A oferta de ações foi restrita a 75 investidores profissionais, sendo que somente 50 deles poderiam fazer a aquisição. Ou seja, participaram apenas representantes de fundos de investimentos, instituições financeiras, gestores de recursos e pessoas físicas, entre outros, com mais de R$ 10 milhões alocados no mercado financeiro.
— A oferta é restrita para ser mais rápida e com maior quantidade de recursos disponíveis. Não será por falta de recursos que uma oferta desse tamanho deixará de sair 1 aponta Carlos Müller, analista-chefe da Geral Asset.
A posição dominante no mercado gaúcho, a presença forte nos municípios do Interior e uma relação antiga, embora eventualmente tempestuosa, com o funcionalismo público do Estado são considerados pontos fortes do Banrisul para atrair investidores, na percepção de Luis Santacreu, analista da agência de rating Austin, especializada em instituições do sistema financeiro.
— Como o banco está listado em bolsa há muitos anos, não é um navegador de primeira viagem. É uma ação conhecida do mercado e, por isso, não há incerteza. Quem tiver interesse, já tem um termômetro do preço da ação — diz Santacreu, referindo-se aos papéis preferenciais negociados desde 2007, quando a então governadora Yeda Crusius (PSDB) abriu o capital do banco.
Santacreu ainda ressalta que o Banrisul tem como desafio alinhar a carteira de produtos e serviços para não ficar atrás de fintechs (startups ligadas ao sistema financeiro) e outros bancos que vêm investindo pesado em digitalização.