O ministro da Economia, Paulo Guedes, escolheu um nome pouco conhecido para assumir a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Secretário especial adjunto de Desestatização e Desinvestimento no governo Jair Bolsonaro, Gustavo Montezano substituirá Joaquim Levy, que pediu demissão no domingo, após virar alvo de críticas do presidente.
Ex-sócio do banco BTG Pactual, Montezano terá dupla missão pela frente. Por um lado, espera-se que siga o ideário liberal da equipe comandada por Guedes, reduzindo a participação do BNDES em grandes financiamentos. Ao mesmo tempo, precisará lidar com a pressão de Bolsonaro para que o banco abra sua "caixa-preta".
A expressão costuma ser usada pelo presidente para indicar supostas irregularidades em que a instituição esteve envolvida durante os governos petistas. O avanço da abertura da "caixa-preta" desperta incertezas entre analistas.
– Uma coisa é falar que deseja fazer isso. Mas o que é, exatamente, a caixa-preta? Arrisco a dizer que seja a análise dos empréstimos dados pelo banco a grandes empresas – afirma o economista João Augusto Salles, especialista no setor bancário.
Bolsonaro disse, no sábado, que estava "por aqui" com Levy, para quem pediu a demissão do então diretor de mercado de capitais do BNDES, Marcos Barbosa Pinto, recém nomeado para o cargo. O que incomodou o presidente foi o fato de Barbosa ter atuado na instituição durante a gestão petista.
Ex-ministro da Fazenda na gestão Dilma Rousseff (PT), Levy assumiu a presidência do BNDES em janeiro. Na ocasião, prometeu que o banco continuaria "ajustando" seu balanço e repensaria a "maneira de trabalhar". Foi com Levy no comando que a instituição divulgou a lista dos seus 50 maiores tomadores de crédito nos últimos 15 anos.
Parte das informações já estava disponível na página do BNDES, mas, segundo o banco, a consulta aos dados foi facilitada. Petrobras, Embraer, Norte Energia, Vale e Odebrecht ocuparam as cinco primeiras posições do ranking.
Queda em novos financiamentos
A menor participação de bancos públicos na concessão de crédito é uma das bandeiras da equipe econômica do governo Jair Bolsonaro. No primeiro trimestre, a aprovação de novos financiamentos do BNDES caiu 37,8% ante igual intervalo de 2018, para R$ 9,9 bilhões. No sentido contrário, os desembolsos da instituição para projetos que já estão em andamento subiram 29,8%, para R$ 14,5 bilhões, no mesmo período.
A política adotada pela atual equipe econômica contrasta com a dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Durante o período petista, de 2003 a 2016, o BNDES focou no incentivo a grandes empresas, chamadas de campeãs nacionais, como a JBS, envolvida em casos de corrupção.
Ex-presidente do banco nos anos 1990, Luiz Carlos Mendonça de Barros critica a intenção do governo Bolsonaro de reduzir a participação do BNDES no financiamento a empresas, sem deixar de questionar o uso da instituição durante as gestões do PT:
– Reduzir a participação é um grave erro. Um dos problemas do Brasil é a concentração bancária. O BNDES ocupa espaço que instituições privadas não ocupam. Os governos do PT são responsáveis pelo exagero na utilização do banco.
Para o economista João Augusto Salles, um dos principais desafios do novo presidente, Gustavo Montezano, será pulverizar a carteira de crédito do BNDES. Ou seja, abrir mais espaço para pequenos tomadores. Com base em dados da instituição, Salles ressalta que 36,5% de toda a carteira concentra-se nos 10 maiores clientes:
– O propósito do banco deve ser o fomento de maneira horizontal.
No primeiro trimestre, com Joaquim Levy na presidência, o lucro líquido do BNDES saltou para R$ 11,1 bilhões, alta de 436,7% ante igual período do ano anterior, sob influência da venda de ações de empresas como a Petrobras.