Sete meses após aceitar o convite feito por Paulo Guedes, Joaquim Levy pediu demissão da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) neste domingo (16). Desde que assumiu, o economista anunciou reestruturação na instituição com reduções e mudanças de cargos, mas não conseguiu "abrir a caixa-preta" do BNDES, promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Esse era um dos principais pontos prometidos pelo então candidato do PSL durante a eleição na área de economia — ele costuma apontar problemas em empréstimo do BNDES para países como Cuba e Venezuela. Levy sempre sofreu resistência de Bolsonaro por ter atuado como ministro de Dilma Rousseff (PT) e secretário de Sérgio Cabral (MDB) no governo do Rio de Janeiro.
Em seu Twitter, Bolsonaro também tratou do tema algumas vezes. Em janeiro, após divulgar os 11 países que mais utilizaram recursos do banco e as razões para os empréstimos, afirmou: "Ainda vamos bem mais a fundo". Pouco antes, havia dito que iria "revelar ao povo brasileiro o que foi feito com seu dinheiro nos últimos anos".
Em novembro, Bolsonaro havia mostrado confiança e prometeu abrir a caixa-preta do BNDES na primeira semana de governo "Se não abrir a caixa-preta, ele [Joaquim Levy] está fora", disse, na ocasião.
Entre 2015 e 2018, o banco já havia devolvido R$ 309 bilhões ao Tesouro. Em junho do ano passado, a instituição acertou a reestruturação da dívida, antecipando o prazo final em 20 anos, passando para 2040, com um cronograma anual de devoluções de R$ 25 bilhões, em média. O atual governo, porém, queria a devolução de R$ 126 bilhões do BNDES à União em 2019.
Na última terça-feira (11), o banco havia anunciado que aprovou a reformulação da estrutura de áreas chave. Segundo nota divulgada pelo BNDES, o objetivo era permitir que a instituição respondesse de maneira mais ágil aos desafios do desenvolvimento econômico e social do Brasil e ainda às oportunidades criadas com a liberalização da economia do país.
O então presidente da instituição esperava facilitar a atuação do banco em áreas de infraestrutura de governos federal, estaduais e municipais e proporcionar mais agilidade ao financiamento de pequenas e médias empresas. A reformulação almejava a venda de ativos públicos e a transferência desses serviços ao setor privado, inclusive no caso do saneamento.
No comunicado, Joaquim Levy também informou a criação de uma nova diretoria para buscar simplificar processos na gestão da carteira de participação do sistema BNDES. A área ainda seria responsável por fomentar os mercados de capitais no país e apoio às áreas de atendimento ao cliente.
Mesmo com a reestruturação, Levy pretendia não causar impacto nos gastos da instituição. De acordo com o BNDES, os custos adicionais foram compensados com a redução de cargos e departamentos do banco.
Além disso, foram promovidas mudanças e rodízios nas posições dos superintendentes e o aumento do número de mulheres nos cargos de chefia. De 20 postos, sete passaram a ser ocupados por representantes do sexo feminino - eram quatro antes da reestruturação.
Durante a reformulação, o advogado Marcos Barbosa Pinto ocuparia, a convite de Levy, a diretoria de mercado de capitais do banco de fomento. O fato incomodou Bolsonaro pois Pinto atuou em gestão petista. O presidente, então, disse que demitiria Levy se a nomeação fosse mantida, mas ele entregou o cargo antes.