A indicação de Marcos Barbosa Pinto para a diretoria de Mercado de Capitais do BNDES não foi a única causa da demissão do presidente da instituição, Joaquim Levy. O próprio Jair Bolsonaro, ao ser acometido pelo destempero no sábado pela manhã, afirmou que estava "por aqui" com o ex-ministro do governo Dilma Rousseff. Mas afinal, o que levou o presidente da República à exasperação? Nada que, no universo da lógica, fosse justificável.
Um dos motivos é o que o presidente chama de "caixa preta do BNDES". Mesmo depois que Levy deu acesso público aos dados sobre financiamentos do banco, inclusive com a publicação de contratos polêmicos com o do empréstimo para construção do porto de Mariel, em Cuba, Bolsonaro continuava cobrando a exposição de informações que comprovassem irregularidades nesses acordos.
Ao longo do domingo (16), surgiram outras fontes de desgaste, mas pouco verificáveis. A insistência de Bolsonaro com o conteúdo da "caixa preta" que desejava ver são públicas. Entre as demais razões apontadas, mas não comprováveis, estariam a resistência de Levy em reduzir o tamanho do BNDES, em devolver recursos das "pedaladas" ao Tesouro Nacional e até em dar apoio mais resolutivo ao programa de privatizações do governo federal, que até agora só avançou nos projetos deixados prontos pelo governo Temer.
Ainda que as queixas sobre o desempenho fossem justificáveis, permanece a forma absolutamente inadequada de discutir a relação profissional. E sobra o agravo à imagem de Marcos Barbosa Pinto – que a coluna não conhece, mas foi até chamado de "suspeito" por Bolsonaro apenas por ter integrado a direção do BNDES na gestão de Demian Fiocca, profissional muito próximo ao ex-ministro Guido Mantega.
O governo gaúcho, que no mês passado assinou com Levy um termo de cooperação técnica para que o BNDES assessore o Estado em projetos de concessão e de privatização, não vê risco na saída do presidente. O governador Eduardo Leite afirma que "não muda nada":
– Nossa relação é com o banco.