Se a produção ainda patina, as vendas não deslancham e o desemprego segue alto, ao menos parece haver esperança para o futuro próximo. Depois da definição das eleições presidenciais, todos os principais índices de confiança que medem o humor de setores como indústria, comércio, construção civil e o ânimo dos consumidores, divulgados nos últimos dias, mostram que melhoraram as perspectivas.
O avanço dos indicadores de confiança, porém, mostra certo descompasso entre expectativa e realidade, após mais de dois anos de desapontamento com as esperanças frustradas de reaceleração da atividade e do mercado de trabalho.
Os levantamentos publicados por entidades e instituições como Confederação Nacional da Indústria, Confederação Nacional do Comércio (CNC) e Fundação Getulio Vargas (FGV) trazem a avaliação entre a situação atual e as expectativas para os próximos meses. Em todos os casos, os entrevistados mostram-se incomodados com o momento da economia, mas mais otimistas com o médio prazo.
Aferido pela CNI, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) subiu forte tanto em relação a outubro quanto sobre o mesmo mês do ano passado e chegou 53,2 pontos em novembro, o mais alto nível desde setembro de 2010. A variável que mede as expectativas, porém, está 15,8 pontos acima da que observa as condições atuais de produção das fábricas.
A construção civil, aponta a FGV, também teve neste mês o maior nível de confiança desde janeiro de 2015.
A CNC trouxe o dado de que o humor do comércio melhorou. Chegou ao maior ponto desde maio deste ano, antes da greve dos caminhoneiros que paralisou o país e comprometeu atividade econômica.
A população também se mostra mais otimista, sustenta a FGV. O grau de confiança do consumidor alcançou em novembro o nível mais alto desde julho de 2014. Mas, novamente, o índice que mede as expectativas está bem acima do que reflete o quadro atual.
O economista Marcelo Rezende, da CNI, avalia que grande parte da melhora do ânimo dos empresários da indústria pode ser creditada à definição eleitoral, com a vitória de Jair Bolsonaro (PSL):
— Isso está associado ao fim da incerteza eleitoral. Há uma direção para onde a política econômica deve caminhar, para onde devem ir as reformas. Rezende pondera que, a despeito da melhora da confiança, ainda é preciso que as expectativas se tornem realidade.
Se as reformas não tiverem o andamento esperado pelo setor, avalia o economista, a tendência é o mau humor voltar. Um dos pontos que geram dúvidas, acrescenta, está na quantidade de declarações desconexas de membros do futuro governo e pessoas próximas a Bolsonaro sobre temas relevantes, como reforma da Previdência.
O front internacional, com juro aumentando nos EUA e guerra comercial entre Washington e Pequim, também pode ser fonte de dor de cabeça, pondera.
Coordenadora da sondagem da FGV sobre a confiança do consumidor, Viviane Seda lembra que é regra, mesmo em outros países, melhora das expectativas quando assume um novo governo. Mas alerta:
— Claro que existem riscos de frustração. Até porque não há nenhuma resolução real ainda.
O economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, lembra que a retomada da economia vem sendo lenta e, nos últimos dois anos, as esperanças de reaceleração da atividade não se confirmaram:
— A avaliação da situação atual é predominantemente negativa tanto com a situação da economia quanto do varejo.
Para Bentes, as esperanças dos empresários estão baseadas na promessa de uma agenda liberal e na qualidade da equipe econômica comandada pelo superministro Paulo Guedes. Mas, além dos perigos externos, pesam as dúvidas sobre a habilidade na articulação política para aprovar as reformas. Se o setor público não mostrar tendência de reversão do quadro fiscal delicado, 2019 pode ser mais um ano de frustração, alerta o economista- chefe da CNC.
Há certo otimismo em relação ao próximo governo e é natural isso ocorrer. Mas contrasta com a situação corrente. Mais de 80% dos empresários do comércio acreditam que a situação vai melhorar, porém, na opinião de 60% deles, a situação da economia piorou nos últimos meses.
Estímulo ao consumidor passa por empregos
Se para os empresários as reformas parecem ser a principal preocupação, para a população o ponto nevrálgico é a melhora no emprego, avaliam economistas que trabalham com os índices de confiança do consumidor.
Coordenadora da sondagem da FGV, Viviane Seda lembra que a inflação controlada e os juros baixos ajudam a injetar um pouco de ânimo nos brasileiros, os altos níveis de desocupação permanecem preocupando e impedem empolgação ainda maior.
— A questão crucial é o mercado de trabalho. Há ainda um grande número de desempregados e endividados. A proporção de pessoas que usam a sua poupança para cobrir despesas correntes ainda é muito alta — observa Viviane.
O nível de confiança do consumidor, em 93,2 pontos, é o maior em mais de quatro anos, mas o índice de expectativas, de 106,4, é superado apenas pelo número de fevereiro de 2013, período anterior à crise e quando o mercado de trabalho permanecia forte. A CNI, que faz aferição desse tipo, vê algo semelhante:
— No consumidor também há melhora das expectativas, mas ele só vai fazer compras mais caras ou que precisem de comprometimento maior da renda quando a situação da economia e do mercado de trabalho avançar — diz o economista Marcelo Rezende.
O indicador da CNI sobre confiança do consumidor chegou a 113 pontos em novembro, o mais alto nível desde janeiro de 2014.