
Depois da esperada primeira fumaça preta – ainda que com o suspense sobre o real motivo da demora –, uma decisão sobre o sucessor de Francisco deve ocorrer até sexta-feira (9). Todos os debates foram feitos antes do conclave, com temas que vão ecoar na memória dos cardeais ao escrever o nome de seu favorito na cédula.
Um desses ecos será relacionado às finanças do Vaticano. Uma das atividades em que o papa Francisco estava envolvido antes de adoecer era como tapar um buraco crescente nas contas da cidade-estado. No dia 26 de abril, o Vaticano anunciou a Comissão de Doações para a Santa Sé, uma forma de incentivar contribuições para sanar o déficit, que foi criada por Francisco apesar de muitas resistências.
Em setembro de 2024, o Papa havia escrito uma carta ao Colégio Cardinalício pedindo "esforço adicional" para economizar (confira aqui). O texto recomendava "selecionar bem as prioridades, favorecendo a colaboração recíproca e sinergias". A quem não tinha rombos no orçamento, pedia que contribuíssem "para cobrir o déficit geral".
Mas se Francisco não chegou a conquistar o "déficit zero" – sim, era uma de suas metas –, transformou um símbolo dos problemas éticos e financeiros da Igreja Católica, o Istituto per le Opere di Religione (IOR, ou Instituto para as Obras de Religião). Nunca ouviu falar? Ouviu, sim: é também chamado de Banco do Vaticano.
No primeiro ano de seu pontificado, determinou um pente-fino no IOR. Foi só então que o "Banco do Vaticano" começou a fazer balanços anuais e publicar relatórios financeiros trimestrais. Ao que se sabe, depois do fechamento de milhares de contas – o número mais citado é de 5 mil – por desconformidade a regras internacionais.
Na hora do voto, o déficit zero e o futuro do IOR estarão entre os pensamentos dos cardeais. Afinal, o papa é guia espiritual, mas também chefe de Estado e, por consequência, gestor público.