O impacto das eleições deste ano na economia brasileira pode ser detectado, até agora, no avanço dos índices de confiança e no comportamento do mercado financeiro. Mais importantes, ainda são raros números da atividade real — vendas, produção e emprego — que captem resultados de novembro.
Um mês e meio após a vitória de Jair Bolsonaro (PSL), ficou nítida a melhora do humor de empresários e consumidores, mas investidores colocaram pé no freio na euforia que marcou o período de meados de setembro até o segundo turno, enquanto dados como vendas no varejo, ainda não oficiais, estão longe de empolgar.
No mercado acionário, conhecido por antecipar os cenários da economia, o índice Ibovespa ficou praticamente de lado desde a vitória de Bolsonaro, apesar de, em 3 de dezembro, ter atingido a maior pontuação da história. De 26 de outubro (último pregão antes do segundo turno) até sexta-feira, teve alta de apenas 2%.
Embora a equipe econômica do superministro Paulo Guedes entusiasme, a principal dúvida no horizonte é a capacidade de articulação política do novo governo para aprovar a reforma da Previdência, considerada essencial para o reequilíbrio das contas do país. Nos sonhos de quem move fortunas com um clique está a mudança significativa nas regras da aposentadoria ainda no primeiro semestre.
Termômetro da aversão ao risco, o dólar subiu 6,85% desde a mesma data, também reflexo do cenário externo, como o aumento do juro nos Estados Unidos e a guerra comercial instaurada entre Washington e Pequim.
— Até a eleição, nosso mercado oscilava ao vento das pesquisas. Depois, o pessoal se acalmou e viu o filme de terror que estava no Exterior. Agora, a grande preocupação dos investidores é a velocidade da aprovação das reformas — sustenta Pablo Spyer, diretor da corretora de origem coreana Mirae Asset.
Para o estrategista-chefe da Eleven Financial Research, Adeodato Volpi Netto, o rali pré-eleitoral — 15% de alta de meados de setembro até a sexta-feira anterior ao segundo turno — foi muito mais causado pela perspectiva de derrota do PT do que pela vitória de Bolsonaro. Uma nova gestão petista, diz o especialista, era vista como risco da volta da irresponsabilidade fiscal e tendência de aumento do endividamento.
— Agora, a incerteza está relacionada à articulação do governo com os parlamentares. Mas o mercado está ótimo, com a bolsa perto dos 90 mil pontos, enquanto lá nos EUA os índices acionários vêm desabando. E, em relação ao dólar, que voltou aos R$ 3,90, temos de lembrar que ele é americano, não nosso, e continua forte no mundo todo — pondera Volpi Netto.
O professor de economia do Insper João Luiz Mascolo também observa que, apesar da qualificação da equipe, a cautela é justificada por declarações desencontradas de pessoas do governo eleito ou que cercam Bolsonaro.
— O time é qualificado, as propostas para a economia são boas, mas precisamos saber a viabilidade da implementação dessas medidas, e até que ponto Bolsonaro e o Congresso as bancam. Vemos que o governo está um pouco atrapalhado, com ruídos entre pessoas próximas ao presidente. Isso cria um ponto de interrogação e preocupa o mercado — diz Mascolo.
Um dos poucos indicadores da economia real que saíram até agora com resultados de novembro foi o de atividade do comércio, da Serasa Experian. Houve queda de 0,5% ante outubro, resultado já com ajustes sazonais, mas impactado pelo grande número de feriados do mês passado.
Também afetados pelo número menor de dias úteis, os emplacamentos de veículos no país caíram 8,9% em novembro na comparação com o mês imediatamente anterior, mostrou a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores.
— Está todo mundo meio que em compasso de espera. A confiança está melhorando, mas isso dificilmente se traduz imediatamente em consumo ou expansão do investimento. Os agentes vão esperar as primeiras movimentações do novo governo, que ainda está construindo as suas propostas — avalia Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa, que também aponta a reforma da Previdência como grande ponto de atenção.
Com a percepção de quem conversa com gestores estrangeiros de grandes fundos, Spyer sustenta que, caso as mudanças das aposentadorias passem de forma rápida no Congresso, o Brasil deve receber enxurrada de capitais do Exterior, principalmente em investimento produtivo, ainda no primeiro semestre de 2019. Privatizações, concessões e intenção de fazer a retomada da economia por meio do investimento, e não via consumo, são outros pontos considerados positivos.
Mascolo pontua que apostar na reação da atividade puxada pelo investimento pode preparar o país para começar a crescer de forma sustentável em patamares de 3% a 4% nos próximos anos. Mas a melhora da confiança dos agentes e a performance do mercado não são suficientes para fazer a economia real deslanchar.