
Hoje CEO da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Paulo Herrmann foi presidente por anos da operação brasileira da John Deere, gigante mundial de máquinas agrícolas com sede nos Estados Unidos.
Como vê a guerra comercial?
Os americanos estão sendo vítimas da sua própria definição de globalização, fazer mais com menos. Foram atrás da mão de obra barata e transferiram praticamente tudo para a China. O que Trump quer é trazer de volta.
E vai conseguir?
Alguma coisa vai. Tem fábricas que foram para o México e podem voltar para os Estados Unidos. Não vai querer trazer o que depende de mão de obra intensiva.
Como fica a relação entre Estados Unidos e China?
É importante entender que uma coisa é a retórica, outra é a realidade. Ele está fazendo uma retórica agressiva para tentar, na negociação, conseguir algo. Acho que, em seis meses, esse assunto está resolvido e eles vão encontrar um ponto em comum, tanto que os discursos já mudaram.
E o Brasil?
Quando dois elefantes brigam, sobra para a grama. Espero que não sejamos a grama. Acho que é um momento positivo para o Brasil. O agro vai ser o grande beneficiado. O país precisa desovar essa super safra recorde de todos os tempos, senão terá impacto sobre os preços. E os chineses vindo comprar vai ser um alívio. Mas também a China é um país complicado para se ter uma dependência tão grande como temos hoje. O sudeste asiático está crescendo, com aumento de consumo, e nós temos uma tradição de exportação. Ao invés de ficar preocupado e fazendo discurso de que a coisa está difícil, porque o governo isso, o governo aquilo, nós temos que ir à luta e buscar esses mercados. Os europeus, com todo esse discurso ambientalista, começam a falar em comprar soja brasileira. Ou seja, era proteção de mercado. A disputa mundial deve colocar alguns pingos nos “is” que estavam escondidos.
Super safra no Brasil. O Rio Grande do Sul teve a estiagem…
Sim, e precisamos enfrentar a questão da água de uma maneira muito séria. Em cinco anos, perder três por falta de água não é casualidade, não é mais atípico. Isso já torna-se uma recorrência. E quem está em cima do Aquífero Guarani, que é o segundo maior do mundo, não pode reclamar da falta de água. Precisamos remover um lixo burocrático que existe sobre armazenagem da água na propriedade e nas outorgas. Se formos a Israel ou sul de Espanha e falarmos que temos 1.500 milímetros de chuva por ano e temos seca, vamos ser ridicularizados.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Isadora Terra (isadora.terra@zerohora.com.br) e Diogo Duarte (diogo.duarte@zerohora.com.br)
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