O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, jogou a responsabilidade da aprovação da reforma da Previdência pelo atual governo para o Parlamento na última terça-feira (6) e defendeu que se faça uma "prensa" em deputados federais e senadores para garantir a medida. A declaração foi mal recebida entre os congressistas, segundo o jornal O Estado de S.Paulo, que recomendaram aos assessores de Jair Bolsonaro "cuidado com as palavras".
— Na minha cabeça hoje tem Previdência, Previdência e Previdência. Classe política, nos ajude a aprovar a reforma. A bola está com o Congresso: prensa neles! — afirmou ao chegar em uma para reunião com o ministro Eduardo Guardia na terça.
O episódio se soma ao mal-estar que existe entre algumas lideranças do Congresso pelo fato de o futuro articulador político de Bolsonaro, o ministro extraordinário Onyx Lorenzoni, ter integrado a oposição à reforma da Previdência durante sua tramitação na comissão especial na Câmara. Agora, ele será o responsável por negociar o apoio dos parlamentares à proposta.
O economista revelou que tanto o presidente Michel Temer quanto o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), teriam dito a ele que tentarão aprovar o texto ainda este ano. Se Congresso Nacional não votar o texto, o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro apresentará uma nova proposta em 2019.
Segundo Guedes, aprovar a reforma ainda este ano seria uma boa forma de encerrar o atual governo, além de possibilitar ao novo governo iniciar a discussão de outras reformas, como a tributária.
Reação
Os parlamentares reagiram às declarações de Guedes para pressionar o Congresso. Presidente da Comissão de Assuntos Econômicos no Senado, Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse que o déficit na Previdência é um assunto urgente, mas que é preciso debate.
— O Congresso é soberano, independente e não tem prensa por aqui. A primeira coisa que esse governo vai ter de aprender é a ter mais cuidado com as palavras.
Um dos principais aliados do presidente eleito, o deputado Alberto Fraga (DEM-DF) disse que hoje não há votos suficientes para aprovar a reforma.
— O ministro Paulo Guedes precisa entender que aqui, para votar, tem de ter voto. E hoje não tem. Quem tem de ficar com esse ônus é o novo governo.
O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), que detém o controle sobre a pauta na Casa, defendeu que Bolsonaro encaminhe sua própria proposta de reforma da Previdência e evitou dar garantias de que o texto será votado este ano.