O Banco Central (BC) deverá manter nesta quarta-feira (19) a taxa básica de juro em 6,5% ao ano, o menor nível já registrado no país, projetam analistas do mercado financeiro. A avaliação de que a Selic não terá elevação está relacionada, em parte, ao desempenho aquém do esperado da economia brasileira, que patina em meio a incertezas provocadas pela corrida presidencial.
O juro básico em patamar mais baixo serve de estímulo à tentativa de retomada do Produto Interno Bruto (PIB) depois da recessão, já que é uma das referências para as demais taxas oferecidas por instituições financeiras. Se o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC deixar a Selic inalterada, sinalizará que ainda busca reanimar o consumo e os investimentos no país.
A reunião desta semana do Copom é a última antes das eleições de outubro. Nem mesmo a recente disparada do dólar, que acumula alta de 24,98% em 2018, faz analistas cogitarem avanço no juro básico neste momento. Nesta terça-feira (18), a moeda americana fechou a R$ 4,1422.
– O dólar vem subindo, mas, em grande parte, por causa das incertezas eleitorais. Não é motivo suficiente para o Banco Central mudar o curso do juro agora – argumenta o pesquisador Marcel Balassiano, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Quando o dólar sobe, encarece o custo de matérias-primas importadas. Consequentemente, tende a elevar os valores de produtos como alimentos e combustíveis. Apesar da pressão causada pelo avanço da moeda americana, a inflação ainda segue em nível comportado no país, o que representa mais um motivo para o Copom não subir a Selic neste momento.
Em agosto, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve deflação (recuo) de 0,09%. Com isso, o IPCA acumulado em 12 meses caiu para 4,19%, abaixo do centro da meta perseguida pelo BC – de 4,5%, com intervalo de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo – em 2018.
– O cenário para a inflação continua muito favorável. Não há por que o Banco Central mudar sua política monetária neste momento e trazer incerteza adicional para o país – entende o economista Alexandre Espírito Santo, da plataforma de investimentos Órama.
Um dos motivos apontados para a inflação seguir em nível reduzido, apesar do dólar alto, é justamente o desempenho da economia em nível aquém do esperado. Por causa de fatores como o desemprego, que atinge 12,9 milhões de brasileiros, o consumo não decolou. Sem demanda aquecida por produtos e serviços, os preços tendem a variar menos.
– A economia está para lá de morna. O desemprego segue elevadíssimo – diz Espírito Santo.
Se o Copom não surpreender analistas, será a quarta reunião consecutiva sem alteração na Selic. O economista João Fernandes, da gestora Quantitas, frisa que o horizonte incerto da política também contribui para o comitê deixar o juro inalterado neste momento:
– Para haver uma mudança agora, o Copom teria de tomá-la antes de saber o cenário que será definido em outubro.
Além da reunião desta semana, o comitê terá mais duas até o final do ano. Analistas ouvidos pelo BC projetam que a Selic fechará 2018 inalterada, nos atuais 6,5%. Apesar da previsão, que consta na última edição do Relatório Focus, Balassiano não descarta a confirmação de uma alta até dezembro, a depender do resultado das eleições.
Juro ao consumidor e às empresas cai menos
Interrompido no último mês de maio, o recente ciclo de cortes no juro básico teve 12 reduções seguidas. O movimento foi iniciado em outubro de 2016 pelo Copom, quando a Selic passou de 14,25% para 14% ao ano. Até a taxa chegar aos atuais 6,5%, o recuo acumulado desde a primeira baixa alcançou 53,6%.
De lá para cá, as linhas de crédito oferecidas a consumidores e empresas também vêm caindo no país, mas em ritmo menor. Entre outubro de 2016 e agosto de 2018, as taxas médias para pessoas físicas e jurídicas tiveram baixa de 21,4% e de 27,4%, respectivamente, aponta a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Para analistas, a diferença na amplitude dos cortes na Selic em relação às linhas oferecidas por instituições financeiras decorre de uma conjunção de fatores. Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcel Balassiano relata que, apesar de a Selic ser uma das variáveis que compõem o custo do crédito no país, questões como inadimplência, concentração bancária e lucro das instituições também pesam na definição das linhas.
– Há mais de um aspecto com influência para o consumidor – reforça Balassiano.