Divulgado pelo IBGE nesta sexta-feira (6), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chamou a atenção por ter registrado a primeira deflação depois de 11 anos. Em junho, o indicador, que mede o aumento generalizado dos preços no país, teve variação negativa de 0,23%.
A deflação é definida como o recuo generalizado nos preços. Ou seja, com a mesma quantidade de dinheiro, o consumidor poderá comprar mais ao longo do tempo.
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Apesar da queda nos valores cobrados por bens e serviços, o movimento é visto com preocupação nos países em que se estende por longos períodos pelo fato de reduzir o consumo. Sócio-diretor da Fundamenta Investimentos, Valter Bianchi Filho pondera que, no Brasil, o cenário é outro:
– A deflação não é vista como boa quando é crônica, como no Japão. As pessoas esperam para comprar um carro porque estará mais barato no mês seguinte. No Brasil, acho pouco provável termos deflação estrutural. O país é consumista.
Professor de Economia da UFRGS, Marcelo Portugal ressalta que a deflação de junho no Brasil é uma exceção. A última, conforme o IBGE, havia sido registrada no sexto mês de 2006. Por isso, o economista afirma que o resultado "não significa nada" em relação a eventuais impactos negativos na atividade econômica:
– Não dá para fazer tempestade em copo d'água.
Portugal comenta que, tradicionalmente, o IPCA, considerado a inflação oficial do país, sofre redução em junho e julho por conta de questões sazonais. Além disso, contribuíram para a queda generalizada fatores como a diminuição nos preços dos alimentos, com a colheita abundante nas lavouras, e das contas de luz, que baixaram com o volume maior de chuvas.
– Houve eventos associados a São Pedro (risos), a questão da energia, aos preços dos combustíveis, que caíram, à supersafra e à politica monetária do governo. Foi tudo na mesma direção (de baixa) – aponta.
Impactos da inflação em baixa
Nas negociações salariais
Como os reajustes salariais são calculados levando em conta a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) ao longo de um ano, o indicador perdendo força pode levar à reposição menor dos rendimentos dos trabalhadores no momento da negociação com as empresas. Em junho, o INPC apresentou deflação de 0,30%. No acumulado de 12 meses, a variação positiva foi reduzida para 2,56%.
Nos investimentos
A inflação em queda estimula o Banco Central (BC) a continuar reduzindo o juro básico da economia brasileira. No país, a taxa Selic serve de referência para as demais taxas de juro e se reflete no rendimento de aplicações de renda fixa. Ou seja, quanto menor a Selic, menor o retorno dos investimentos. Por outro lado, ao reduzir o juro básico, que hoje está em 10,25%, o BC incentiva a produção e o consumo.
Nos contratos de aluguel
Os preços de locações são reajustados conforme outro indicador, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M). A variação negativa em junho, de 0,67%, diminuiu a alta do IGP-M em 12 meses para 0,78%. Por conta desse cenário, o reajuste nos contratos de aluguel poderá ser menor.