Um dos principais indutores da Ceitec seria demanda do próprio governo federal, mas os programas que criou e nos quais utilizaria os produtos da estatal ficaram longe de deslanchar. Agora, a estratégia da empresa será mirar no que os clientes privados necessitam como solução.
Exemplos de políticas anunciadas pelo Planalto que garantiriam produção da Ceitec não faltam. Projeto pioneiro, o chip do boi ganhou escala comercial em 2011. Esperava-se grande avanço da rastreabilidade na pecuária, mas uma série de entraves frustrou as expectativas.
O mesmo ocorreu com a promessa de um documento que unificaria a identificação dos brasileiros. A lei é de 2007, mas apenas neste ano começa a sair do papel. Ilustra ainda a situação o Sistema de Identificação Automática de Veículos, lançado há mais uma década e que ainda não se consolidou, e o chip do passaporte, convênio assinado com a Casa da Moeda em 2012 e que, espera-se, comece finalmente a ser utilizado no documento no segundo semestre.
Uma das principais apostas comerciais é o uso de chips para a gestão de ativos, como mobiliário e equipamentos de órgãos públicos e empresas, para dar mais agilidade ao inventário de patrimônio, assim como enxovais de hospitais e hotéis. Ainda dentro da nova estratégia da Ceitec está a busca por soluções para cadeias importantes da economia. Uma iniciativa do gênero é um trabalho em conjunto com o setor calçadista que pode, no futuro, ajudar a evitar falsificações e facilitar a vida de lojas e clientes quando necessidade de troca do par de sapatos, até dispensando nota fiscal.
— Um dos cases que vamos trabalhar no segundo semestre é a inclusão de etiquetas (com chips) nos calçados — adianta o presidente da Ceitec, Paulo de Tarso Mendes Luna.
A ideia é evoluir no projeto Sola, da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), de automação logística, mas ainda é preciso avaliar questões técnicas e econômicas para a adoção do RFID, diz Igor Hoelscher, consultor da entidade. Um piloto está em andamento com a Via Marte.
— O RFID traz ganhos na velocidade para processos e controles, já que a movimentação de mercadorias passa a ser mais rápida, sem a intervenção humana para ler código de barras com escâner, por exemplo — diz Hoelscher.
Em outra frente, a Ceitec festeja o interesse de gigantes mundiais da área em estreitar laços. Um exemplo de parceria comercial em gestação é com a coreana Hana Micron, conta Luna. A empresa asiática também trabalha na área de identificação animal, onde se encaixa o chip do boi, o primeiro desenvolvido pela Ceitec. Pela ideia inicial, a estatal entra com o chip e a Hanna Micron com equipamentos leitores das informações contidas no dispositivo microeletrônico. Há ainda tratativas com outras grandes empresas internacionais do ramo, como a holandesa NPX e a americana HID Global.
O que sai da estatal
Identificação animal
Ajuda a controlar o rebanho ou pode ser aplicado em animais domésticos, facilitando a identificação, o acompanhamento de vacinas, peso, saúde e idade. O primeiro projeto desenvolvido pela Ceitec foi o chip do boi, para rastreabilidade do rebanho bovino. Em alguns países, como o Uruguai, todos os animais são identificados com chip.
Medicamentos
Sensores em caixas ou produtos ajudam a conhecer as variações de temperatura que um medicamento (vacina, por exemplo) sofreu durante o transporte, para saber se o produto ainda tem condições de uso.
Veículos
Etiquetas RFID que permitem a identificação, à distância, de automóveis. Podem facilitar a gestão de tráfego, fiscalização, segurança pública e cobrança de pedágio. A Ceitec já tem seu produto em uso por algumas operadoras de pedágio no país.
No segundo semestre, veículos isentos que passam por pedágios da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) também devem começar a usar o produto da Ceitec para a liberação automática da cancela.
Identificação pessoal
Pode ser usado para controle de acesso ou em documentos, como carteira de identidade ou de habilitação. Também no segundo semestre de 2018, um chip desenvolvido pela Ceitec — única fábrica na América Latina com capacidade e certificação para produzir um circuito integrado para esta aplicação — deve começar a ser utilizado no passaporte brasileiro.
Gestão de ativos
Controle de entrada e saída de mercadoria e inventários de bens de órgãos públicos e prefeituras. É uma das principais apostas da empresa, pela rapidez com que as informações são geradas, a partir de um pequeno equipamento (móvel ou fixo) de leitura das etiquetas RFID.
Pode ser usado, por exemplo, em prefeituras, para acompanhamento do patrimônio, como mobiliários e computadores. Pode ser empregado ainda em enxovais hospitalares e de hotéis, melhorando o controle desses itens e inibindo o furto ou o extravio de bens. O chip da Ceitec para têxteis resiste a centenas de ciclos e tipos de lavagem e secagem diferentes.
Diagnósticos
Há ainda, em fase de pesquisa, o desenvolvimento de chips para soluções capazes de realizar tarefas equivalentes a exames laboratoriais para detectar doenças, contaminações ou presença de substâncias. Esse tipo de produto pode ser utilizado para diagnósticos precoces, prognósticos e acompanhamento de tratamentos.