Com a lenta retomada da economia e a inflação ainda sob controle, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve a taxa básica de juro em 6,5% ao ano, em reunião encerrada nesta quarta-feira (20). Por conta da decisão, esperada pela maioria dos analistas do mercado financeiro, a Selic permanece no menor nível já registrado no país.
O juro em patamar mais baixo representa auxílio à reação da economia, já que a taxa é uma das referências para empréstimos em bancos e linhas de crédito oferecidas a empresas que desejam ampliar investimentos.
— Antes da reunião, o Banco Central havia deixado claro que não queria elevar o juro neste momento por diferentes motivos. Um deles é a fraca atividade econômica — resume o economista-chefe da corretora Spinelli, André Perfeito.
Em comunicado após a reunião, o Copom declarou que a greve dos caminhoneiros "dificulta a leitura da evolução recente" do Produto Interno Bruto (PIB). "O cenário básico contempla continuidade do processo de recuperação da economia brasileira, em ritmo mais gradual", mencionou o comitê.
Na reunião anterior, em maio, o Copom havia surpreendido analistas ao interromper o ciclo de 12 cortes seguidos na Selic. De lá para cá, uma parcela do mercado financeiro até cogitou aumento no juro por conta da previsão de alta na inflação, medida oficialmente pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A estimativa de avanço no IPCA ganhou força após a greve dos caminhoneiros, que provocou aumento nos preços de produtos como combustíveis e alimentos. Outro fator que elevou a previsão do indicador foi a recente disparada do dólar.
"O Comitê julga que, no curto prazo, a inflação deverá refletir os efeitos altistas significativos e temporários da paralisação no setor de transporte de cargas e de outros ajustes de preços relativos", sublinhou o Copom após a reunião.
Segundo a última edição do boletim Focus, divulgado pelo BC na segunda-feira (18), analistas do mercado financeiro subiram a estimativa para o IPCA, ao fim de 2018, de 3,82% para 3,88%. Caso a previsão se confirme, apesar do avanço, o indicador ficará dentro da meta do Banco Central, de 4,5%, com possibilidade de variação entre 3% e 6%.
— Não teria motivo para o Copom aumentar o juro de maneira prematura. O câmbio tem efeitos sobre a inflação. Mas a retomada da economia continua fraca — sublinha o economista-chefe da Geral Investimentos, Denilson Alencastro.
Em seu comunicado, o Copom também salientou que, desde a reunião anterior, o cenário externo ficou mais desafiador. "A evolução dos riscos, em grande parte associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas, produziu ajustes nos mercados financeiros internacionais. Como resultado, houve redução do apetite ao risco em relação a economias emergentes", destacou.
No documento, o comitê ainda afirmou que reformas são necessárias para a "recuperação sustentável" do país e a permanência da inflação em nível baixo. "Os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação", finalizou o comitê.