Os olhares de analistas e investidores estarão voltados nesta quarta-feira (20) para o desfecho da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). Como a inflação ainda está em nível baixo, grande parte do mercado financeiro projeta que o encontro, iniciado nesta terça-feira (19), terminará com a manutenção da taxa básica de juro em 6,5% ao ano, o menor patamar já registrado no país. A hipótese de leve elevação de 0,25 ponto percentual na Selic, nem mesmo cogitada até a greve dos caminhoneiros, agora não é descartada.
— Esta não é uma reunião normal. As incertezas cresceram na economia nos últimos meses. Parte do mercado financeiro passou a apostar em alta no juro por conta da recente disparada do dólar. Apesar disso, as pressões do câmbio sobre a inflação continuam controladas. Por isso, a tendência é de que o Copom mantenha o juro em 6,5% — aposta Valter Bianchi Filho, sócio-diretor da Fundamenta Investimentos.
Na reunião anterior, em maio, os diretores do BC surpreenderam ao interromper o ciclo de 12 cortes seguidos na Selic. Também no mês passado, a greve dos caminhoneiros provocou elevação em preços cobrados por produtos como alimentos e combustíveis. Com isso, as previsões para a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), aumentaram, mas ainda sugerem que o indicador seguirá sob controle.
Segundo a última edição do boletim Focus, divulgado pelo BC na segunda-feira (18), analistas do mercado financeiro subiram a estimativa para o IPCA, ao fim de 2018, de 3,82% para 3,88%. Caso a previsão se confirme, apesar do avanço, o indicador ficará dentro da meta do Banco Central, de 4,5%, com possibilidade de variação entre 3% e 6%.
— A política monetária olha para a inflação. As projeções para o IPCA até subiram, mas ainda estão abaixo do centro da meta. Por isso, o Copom deverá manter a Selic em 6,5% — avalia a economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências.
Além da inflação comportada, a retomada do Produto Interno Bruto (PIB) em nível aquém do esperado também deverá fazer o Copom manter a Selic em 6,5%, dizem analistas. O juro básico em patamar mais baixo é visto como instrumento de auxílio à reação da economia, já que a taxa é uma das referências para as linhas de crédito oferecidas a empresas que desejam ampliar investimentos e também para o comércio ou empréstimos em bancos.
— A possível manutenção da Selic em 6,5% é baseada na fraca recuperação do PIB. A economia do país não vai crescer em 2018 tanto quanto se esperava. Mas não se pode descartar a surpresa com uma alta — sublinha Roberto Indech, analista-chefe da Rico Investimentos.
Nesta terça-feira, a expectativa relacionada à decisão do Copom teve reflexos na bolsa de valores de São Paulo. Ao longo da sessão, seu principal índice, o Ibovespa, passou a subir com o avanço das projeções de que a Selic permanecerá em 6,5%. Ao final do dia, com a influência do desempenho de ações de bancos e da Petrobras, o indicador registrou alta de 2,26%, aos 71.394 pontos.
Depois da reunião desta semana, o Copom terá mais quatro encontros até o fim do ano. O próximo está marcado para os dias 31 de julho e 1º de agosto, quando as chances de alta no juro são maiores por conta do possível crescimento de incertezas relacionadas às eleições, frisam analistas. A sinalização do boletim Focus é de Selic em 6,50% ao ano em 31 de dezembro.
Os impactos do juro
Inflação
Se deixar a Selic em 6,5%, o Banco Central (BC) não deve demonstrar grande preocupação com a inflação neste momento, já que o indicador segue em nível comportado no país. Caso eleve a taxa, tentará conter o avanço de parte dos preços causado pela greve dos caminhoneiros.
Crescimento da economia
Com a Selic em 6,5%, o BC seguirá com a tentativa de incentivar retomada mais robusta da economia. O juro básico em nível mais baixo serve como instrumento de auxílio ao avanço do consumo e de investimentos de empresas, já que é uma das referências para as linhas de crédito oferecidas no país. Se aumentar a Selic, o BC indicará que, por conta da inflação, terá de encerrar os estímulos ao crescimento do PIB por meio da Selic.
Câmbio
A recente disparada do dólar fez com que analistas projetassem alta no juro. Essa elevação na Selic serviria para conter eventuais impactos inflacionários causados pelo câmbio. Se o BC mantiver a taxa em 6,5%, indicará que os efeitos da moeda americana sobre a inflação não preocupam neste momento. Isso poderá causar pequena desvalorização do real no curto prazo, conforme analistas.