O juro básico da economia brasileira despencou para o menor nível já registrado pelo Banco Central (BC), mas o efeito do ciclo de cortes ainda não alcança com igual força o crédito oferecido aos brasileiros. Enquanto a Selic caiu para 6,75% no início deste mês, taxas como as do cartão e do cheque especial fecharam 2017 acima dos 300% ao ano, mesmo depois de reduções nos últimos meses.
A explicação para o quadro resulta de combinação de fatores. Um deles é o avanço da inadimplência durante a recessão, sublinha Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo de estudos e pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac):
– As taxas de juro estão caindo. O problema é que, por conta da recessão, subiram muito nos últimos anos e tiveram um descolamento da Selic. Por isso, e com razão, o cliente não sente o efeito no banco.
Outro ingrediente que forma a receita do descompasso, apontam analistas, é o spread bancário. O termo corresponde à diferença entre a taxa de captação das instituições e o juro cobrado dos clientes.
– O spread aumentou com a alta nos riscos da concessão de crédito durante a recessão. Além disso, no país, há uma grande concentração bancária. Mais de 80% da oferta de crédito está concentrada em cinco instituições. Nos últimos anos, vimos bancos incorporando outros – avalia Oliveira.
Pelo 14º mês seguido, seis linhas de crédito pesquisadas pela Anefac tiveram baixa no país em janeiro. Oliveira projeta que novas reduções devem ocorrer nos próximos meses. No entanto, para sentir as baixas com maior força, o brasileiro deve torcer em ano de Copa do Mundo pela melhora mais intensa de outros indicadores econômicos:
– O desemprego continua alto. Mas a tendência é de que a economia siga crescendo ao longo de 2018. Com melhora no mercado de trabalho, a inadimplência pode ter baixa. As taxas de juro continuarão caindo neste ano – estima Oliveira.
Em março, o BC terá nova reunião para definir se cortará ou não a Selic novamente. Na última semana, a instituição reforçou que poderá interromper o atual ciclo de baixas no juro básico, iniciado em outubro de 2016, mas não fechou a janela para uma eventual redução.
– Mesmo se o BC não cortar o juro, devemos ver as taxas caindo nos bancos – prevê Oliveira.