Desde outubro de 2016, quando o Banco Central (BC) iniciou o ciclo de cortes da Selic, a taxa básica de juro já caiu para menos da metade. Saiu do patamar de 14,25% ao ano para 6,5%, após decisão nesta quarta-feira (21) do Comitê de Política Monetária (Copom), que optou por nova redução de 0,25 ponto percentual.
Na ponta, porém, o custo do crédito para o consumidor baixou bem menos. Enquanto a Selic caiu 55% no intervalo de 18 meses, no mercado a taxa média de juro para a pessoa física foi reduzida em apenas 13,98% — sem considerar a decisão desta quarta —, para 133,7% ao ano, mostra cálculo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Com o novo corte, deve haver recuo adicional de 0,39%, para 133,18%, projeta a entidade.
O diretor-executivo de estudos e pesquisas econômicas da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira, explica que a Selic representa apenas 20% do custo dos empréstimos ao consumidor final. Os outros quatro componentes são o risco de inadimplência (32%), margem de lucro das instituições (27%), impostos e compulsório (20%) e despesas administrativas (1%).
Segundo Oliveira, a falta de concorrência bancária agravada pelo grande número de aquisições no setor nos últimos anos é um dos fatores que limitam a redução das taxas. Esse ponto, explica, pode ser combatido exatamente com a queda da Selic.
Com a redução da rentabilidade dos títulos públicos, calibrada pelo próprio juro básico da economia, os bancos terão de partir para uma aposta maior no mercado de crédito para manter receita, avalia o especialista. Isso pode fazer com que aumente a concorrência e as instituições abram mão de parte de margem de lucro das operações para conquistar clientes.
Outra possibilidade é a redução do compulsório, decisão que cabe do BC.
— Os níveis atuais de compulsório não se justificam. Os bancos centrais o utilizam para conter a circulação de moeda. Mas, no cenário atual da economia, com inflação baixa, não tem sentido nesta magnitude — avalia Oliveira, acrescentando que, se o mercado for irrigado com mais recursos, a tendência é aumentar a concorrência e diminuir custos.
O principal fator no custo do crédito, com peso de quase um terço, é o risco de inadimplência. Esse ponto, observa o especialista, tende a melhorar à medida que a economia e o mercado de trabalho reagirem, diminuindo as chances de calote nos empréstimos.
Entre as principais modalidades de crédito para o consumidor pessoa física, a que mais caiu foi a do cartão de crédito. Mesmo assim, segue a mais cara, com patamares estratosféricos, na ordem de 318% ano. Sem considerar o corte desta quarta-feira, teve uma queda no custo de 29,45%, de acordo com cálculos da Anefac. A principal razão, no entanto, não é o alívio na Selic, mas uma mudança de regras no rotativo anunciada no ano passado pelo BC.
A alteração fez com que o cliente só conseguisse o pagamento mínimo de 15% do valor da fatura por um mês. Na conta seguinte, se o valor total não for pago, o banco precisa oferecer outra linha, mais barata.
No caso do cheque especial, o juro ao consumidor até ficou mais caro.
— Tecnicamente, não há justificativa para isso — diz Oliveira, que prega uma atitude do BC semelhante à adotada no caso do cartão de crédito para o cheque especial.