A leve alta de 0,4% no primeiro trimestre indica que o Produto Interno Bruto (PIB) segue em retomada lenta e patina na tentativa de confirmar reação mais consistente. Entre janeiro e março, o avanço da economia brasileira foi influenciado sobretudo pelo desempenho da agropecuária, que cresceu 1,4% frente ao período de outubro a dezembro de 2017. Serviços e indústria ficaram quase estagnados, com elevação de 0,1%, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
– A recuperação é mais lenta do que a esperada inicialmente – sublinha o economista Marcelo Portugal, professor da UFRGS.
Os números divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira (30) ainda não contemplam os efeitos da greve dos caminhoneiros. Desde o último dia 21, a paralisação em rodovias causa prejuízos em diversos segmentos da economia no país.
O desempenho de indicadores aquém do esperado entre janeiro e março tem forçado a revisão para baixo em projeções de crescimento do PIB ao final de 2018. No último dia 22, o governo federal reduziu, de 2,97% para 2,5%, sua estimativa de avanço.
A visão mais pessimista também respingou nas projeções de analistas do mercado financeiro, mostra o relatório Focus, produzido pelo Banco Central (BC). Conforme o documento, divulgado semanalmente, a mediana das previsões apontava, no início de janeiro, que o PIB deveria crescer 2,69% em 2018. Na edição do boletim publicada na última segunda-feira (28), a estimativa caiu para 2,37%.
A velocidade lenta de retomada nos primeiros três meses de 2018 é atribuída, em parte, à existência de incertezas eleitorais. Recentemente, ganhou componente adicional: a preocupação com o cenário externo.
A turbulência internacional cresceu com a possível alta no juro dos Estados Unidos em nível mais rápido do que o previsto inicialmente. Com isso, o mercado americano se tornaria mais atraente a investimentos hoje aplicados em emergentes, onde os riscos são maiores.
– Há muita incerteza eleitoral no ar. Isso foi subestimado pelas expectativas no começo do ano – observa Portugal. – O governo encalhou e não conseguirá fazer reformas como a da Previdência – emenda.
O cenário externo adverso, que até o começo do ano não preocupava, também fez o BC interromper, no último dia 16, uma política vista como estimulante à retomada da economia. Na ocasião, a instituição confirmou a manutenção do juro básico em 6,5% ao ano, o menor patamar já registrado, depois de 12 cortes seguidos. A redução na taxa Selic era vista como um esforço para alavancar o consumo, destravar investimentos de empresas e, consequentemente, acelerar o crescimento do PIB.
– O momento é de cautela. O BC vinha baixando o juro, mas o cenário internacional impossibilitou novo corte. Em ano eleitoral, há maiores incertezas, e o crescimento do PIB não será como o esperado no início do ano – pontua o economista Adalmir Marquetti, professor da PUCRS.