O quinto dia seguido de mobilização de caminhoneiros no país eleva a apreensão em diferentes setores da economia gaúcha. Os impactos da greve são ilustrados pela paralisação total ou parcial de atividades de empresas e falta de abastecimento de produtos.
— A situação preocupa. Várias empresas reportam falta de suprimentos. É um transtorno para toda a cadeia produtiva — descreve o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Porcello Petry.
Um dos setores que sofreram choque com a greve é o automobilístico. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informou que, a partir desta sexta-feira (25), todas as linhas de produção instaladas no país estão paradas.
No Estado, a General Motors (GM) havia anunciado, na terça-feira (22), a suspensão da produção em Gravataí, na Região Metropolitana. Em comunicado, a companhia não apresentou previsão para retomada.
A greve também alcançou empresas de Caxias do Sul, na Serra. A fabricante de ônibus Marcopolo confirmou que suspenderá as atividades entre segunda (28) e sexta-feira (1º) da próxima semana. A Randon, de autopeças e implementos rodoviários, seguiu na mesma linha e paralisou sua operação. A Agrale, de caminhões e tratores, não ficou imune: uma das unidades parou.
— Temos falta de matéria-prima e há problemas para entregar o que é vendido. Além disso, as empresas estão sem combustível para fazer o transporte dos trabalhadores — lamenta o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs), Reomar Slaviero.
A paralisação de motoristas alcança ainda a pecuária. A frustração diária de receitas chega a cerca de R$ 20 milhões nas indústrias de aves e a R$ 14 milhões no segmento de suínos, aponta o Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal (Fundesa).
No setor leiteiro, o prejuízo é de R$ 10 milhões por dia com a perda da produção estocada nas propriedades, estima o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado (Sindilat-RS).
A greve ainda respinga no setor portuário. Desde quarta-feira (23), o Porto de Rio Grande, na Zona Sul, não recebe caminhões. "A paralisação afetou significativamente a importação e exportação de cargas, visto o transporte rodoviário ser responsável por cerca de 80% desta movimentação em todo o complexo portuário", declarou o diretor-superintendente do porto, Janir Branco, em comunicado.
Sem falta de alimentos, diz entidade
Nas cidades gaúchas, consumidores temem a falta de abastecimento de produtos em supermercados. No entanto, a Agas, entidade que representa as empresas do setor, declarou nesta sexta-feira que não deverá haver falta de alimentos no curto prazo.
"Se a paralisação dos caminhoneiros perdurar, faltarão produtos pontuais, mas o desabastecimento completo não ocorrerá. Os consumidores seguirão encontrando produtos alimentícios, bebidas e itens de higiene e limpeza nos supermercados, a menos que a greve se estenda por muitas semanas", garantiu o presidente da Agas, Antônio Cesa Longo, por meio de nota. "O Estado possui 4,4 mil supermercados e, se o cliente não encontrar algo em uma loja, poderá encontrar este mesmo item em outro ponto de venda", acrescentou.