Foi de mãos dadas com o filho mais novo que a produtora Fabiana Venzon, 46 anos, recebeu a reportagem de GZH para uma conversa no parque da Expodireto sobre a presença das mulheres no cooperativismo. Antes, ela já tinha acudido a filha doente em casa e trouxe o menor, de oito anos, para acompanhar o seu dia na feira — porque muitas das funções das mulheres não ficam de lado mesmo elas assumindo os seus papéis de liderança.
Fabiana é um dos principais nomes do corpo de decisões da Cotrijal, cooperativa que realiza a feira em Não-Me-Toque. Desde 2019, ela integra o Conselho de Administração da entidade, posto que ocupa ao lado de mais uma mulher. Tem formação na área administrativa, com especializações em gestão empresarial e no agronegócio, mas, antes disso tudo, é mãe e produtora rural.
— Quem pilota a colheitadeira sou eu! — orgulha-se, contando que na lavoura participa de todo o processo.
Na Cotrijal, desde que assumiu a cadeira no conselho, tem trabalhado para inserir as mulheres no dia a dia do cooperativismo não só em presença, mas em capacitação de liderança. A ideia é dar suporte para que dali saiam novas gerentes e diretoras, uma nova geração de quem comanda. São mais de 3 mil mulheres cooperadas na Cotrijal, em um universo de 16 mil associados.
— O agro ainda é um mundo muito masculino, mas as mulheres começaram a entender a importância delas no dia a dia não só das propriedades, mas também da cooperativa. Se elas não estiverem participando da liderança, dos comitês, das assembleias, as ideias que elas têm são mais difíceis de chegar até quem realmente decide. Este ano, especificamente, nossos encontros são baseados na gestão de propriedade. Para as mulheres entenderam fluxo de caixa, sobre valores, compra, venda, melhor momento de fixar, fazer contrato futuro ou não — conta.
Uma das ideias trazidas por Fabiana foi a de reestruturar o programa Mais Elas da cooperativa. Com base na formação, a iniciativa tem agendas fixas ao longo do ano, entre elas dias de campo específicos para as mulheres e eventos que chegam a reunir mais de 2 mil cooperadas.
Integrante do Mais Elas, a produtora Agueda Kunz Maldaner, 45 anos, vê no programa uma maneira de fortalecer as mulheres. A iniciativa abrange 53 municípios gaúchos. Na sua percepção, há uma mudança cultural em curso, encorajando as agricultoras a estarem em espaços que antes não eram ocupados por elas.
— Vejo que ainda estamos em poucas líderes, mas estamos chegando lá. O cooperativismo está muito presente no campo e muitas vezes é o único suporte que as pessoas têm. Minha ideia é atingir essas mulheres. Conversar para entender a realidade delas e nos fortalecer — diz Agueda.
A participação de mulheres entre as lideranças ligadas ao agronegócio ainda é pequena do ponto de vista da equidade, mas avança alguns passos. Segundo dados do Anuário do Cooperativismo 2023, elaborado pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), a participação feminina no cooperativismo representava 41% dos mais de 20 milhões de cooperados no país no ano de 2022. Eram 22% de mulheres ocupando cargos de liderança nas cooperativas.
No Rio Grande do Sul, as mulheres representam 37% do quadro de cooperados, mas apenas 15% delas estão na composição dos conselhos de administração, conforme dados do Sistema Ocergs. Nas diretorias, o percentual reduz para 13%.
Na percepção de Tânia Zanella, superintendente do Sistema OCB, a presença feminina não é mais uma questão só de conceito ou de tendência, mas de como incluí-las como parte das organizações.
— A presença feminina impacta diretamente nos negócios. Temos pesquisas que mostram que onde há diversidade até a lucratividade aumenta. Então não é mais sobre por que é importante incluir, mas como vamos fazer de fato essa transformação — diz Tânia.
Para isso, a capacitação é fundamental. Nesta sexta-feira, Dia Internacional da Mulher, o Sistema Ocergs lança na Expodireto o Comitê Elas pelo Coop RS, programa estadual para capacitar as mulheres no cooperativismo. Mais de 50 mulheres já estão inscritas na iniciativa.
Rafaeli Minuzzi, coordenadora do comitê, explica que o programa começa norteado por três temas: desenvolvimento pessoal, liderança e cooperativismo. O objetivo é fazer com que a igualdade de gênero seja cada vez mais realidade nas cooperativas.
— Quando temos mais diversidade, temos mais diálogo e gestões mais eficazes — diz Rafaeli.