Principal atração da Expodireto Cotrijal, as máquinas e os implementos agrícolas não deixam por menos na edição de 2023, entregando ainda mais tecnologia embarcada. Neste ano, em meio às novidades no parque em Não-Me-Toque, destacam-se aquelas focadas na realidade no produtor local, com soluções voltadas ao pequeno e médio produtor (que são maioria no Rio Grande do Sul), e nas alternativas de financiamento diante da menor oferta de crédito subsidiado.
Ainda que as máquinas maiores e cheias de inovação encham os olhos dos produtores que circulam pelos estantes, nem todas são opção de compra — primeiro pelo bolso, segundo pelo tipo de produção. Sabendo disso, as grandes fabricantes do setor apresentam na exposição lançamentos focados nesses públicos, com portfólio de máquinas de menor porte e adaptadas à geografia local.
No estande da Massey Ferguson, um dos lançamentos é um conjunto de plantio. A plantadeira Momentum, que vai acoplada a um trator, é fabricada em Ibirubá, no norte do Estado. O conjunto parte de R$ 2 milhões, dependendo da configuração da máquina.
O lançamento na Expodireto foi escolhido a dedo, já que a plantadeira foca no produtor local do Sul. Além de ser uma máquina dobrável, o implemento é projetado para operar entre 18 e 24 linhas (de plantio), justamente para lavouras menores de pequenos e médios agricultores. A tecnologia ainda permite operar em áreas acidentadas, distribuindo o peso da máquina e equilibrando-a no solo.
Outras novidades na feira focam em máquinas versáteis e compactadas, que possam ser adaptadas a mais de uma cultura e que sejam de fácil transporte dentro das propriedades. Os tratores compactos são um exemplo, ideais para plantações de frutas.
Outra preocupação das montadoras voltada à necessidade dos produtores diz respeito ao crédito. Grande parte das empresas presentes no parque está apostando no consórcio e no financiamento próprio para atrair os compradores, já que os recursos nas linhas subsidiadas do Plano Safra estão escassos e até esgotados em algumas modalidades operadas pelo BNDES.
Para o gerente de vendas da Massey, Ordely Júnior, o cenário abre campo para as alternativas. A montadora é uma das que possui parcerias com bancos do varejo que ainda têm recursos e que trabalham com taxas referenciais do último Plano Safra, quando o juro era menor. Também há o banco de fábrica da Massey, que tem opções de financiamento próprio com taxas a partir de 0%.
Uma terceira opção é o consórcio, que vem despontando nos últimos anos na modalidade agrícola. Segundo o gerente de vendas, o produtor passou a planejar mais a sua aquisição de máquinas, programando a compra e encontrando no consórcio uma alternativa mais em conta. Ele diz que a flexibilização por parte das marcas é uma maneira de atrair os clientes.
— Sabemos que os recursos estão escassos, mas o produtor vem para a feira buscando taxa referencial do último Plano Safra e consegue negociar. A vantagem é que tem recurso e flexibilização nos planos de contratação. Resumindo, (o crédito público escasso) não é um problema — diz Júnior.
Para o gerente nacional de vendas da Jacto, Marcos Aukar, o crédito travado se impõe como uma dificuldade a mais este ano, além da estiagem e da quebra de safra estimada. Consolidada no ramo de pulverização e adubação, a empresa tem como destaque na Expodireto as apostas em plantio.
— A expectativa era um pouco pessimista pela quebra de safra. No entanto, ao chegar na feira, percebemos um movimento interessante de produtores olhando para frente e se preparando para o ano seguinte. Vemos um ânimo bacana do produtor — observa Aukar.
A empresa também tem apostado no consórcio como opção de vendas. Conforme Aukar, cerca de 20% do total de negócios fechados na feira até esta quarta-feira (8) foi fechado na modalidade.
Entre os produtores que estão capitalizados, a preferência é por adquirir o maquinário totalmente com recursos próprios. A expectativa da Cotrijal, que organiza a feira, é bater nesta edição a marca de R$ 4,9 bilhões de negócios alcançada no ano passado.
A serviço dos dados
Parada obrigatória de visitantes ávidos por tecnologia, os estandes que apostam em atrações interativas ou que mostram a tecnologia aplicada na prática são os mais disputados pelo público. Volante que simula a pilotagem de uma colheitadeira, como se fosse videogame, ou demonstrações minimalistas da pulverização são apenas alguns exemplos.
No estande da John Deere, um Centro de Soluções Conectadas montado bem no meio do espaço dá uma prova de como os dados são utilizados na tomada de decisões. Uma espécie de “painel de controle”, com monitores exibindo informações diversas, é analisado por um time de especialistas que elabora relatórios de acordo com o desempenho das máquinas. A análise foca em três pilares: performance e disponibilidade da máquina e menor custo operacional. Os dados consideram informações da máquina (desempenho do motor, por exemplo) e dados agronômicos, como quantos quilos estão sendo colhidos.
O serviço é disponibilizado junto com a compra dos implementos e o cliente tem a opção de liberar os dados ou não. Os relatórios mostram pontos de melhoria aos agricultores, sugerindo melhor consumo de combustível e estratégias de melhor aproveitamento na colheita.
— Aqui é a transformação dos dados em fatos. Com esse suporte, o cliente consegue tirar 100% da máquina, que é o sonho dele — resume o gerente de agricultura digital na SLC Máquinas, concessionária da John Deere, Samuel Caldeira.
No Rio Grande do Sul, são dois centros de análise da fabricante dedicados aos dados, um em Santa Maria, para a linha agrícola, e uma segunda em Eldorado do Sul, para linha de construção.
Consultora de soluções integradas da concessionária Verdes Vales em Passo Fundo, Andresa Rodigheri conta que a sua tarefa é também de auxiliar o produtor a ler os dados disponibilizados.
— Montamos os relatórios para se ter um acompanhamento, um gerenciamento de frota, mesmo — diz.