Talvez você não tenha percebido, mas seus investimentos — da Caderneta de Poupança aos fundos de Renda Fixa ou títulos do Tesouro Direto — foram chacoalhados com a decisão do Banco Central, nesta semana, de cortar as taxas de Juros ao menor nível da história. Com a redução da Selic de 6,5% para 6% ao ano, em decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira (31), a aplicações mais populares dos brasileiros perderam força.
Isso porque os investimentos de Renda Fixa têm rendimentos atrelados ao Juro Básico. Portanto, quando cai esta taxa, míngua também as economias das famílias.
— Todos investimentos de renda fixa passam a render menos com o corte do juro, mas o efeito mais negativo se dá na Poupança — explica o educador financeiro Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin).
Ao contrário das demais opções de Renda Fixa, a Poupança não pode ser negociada com o banco ou a corretora, o que significa que o dinheiro depositado passa automaticamente a crescer menos. Pelas regras da Caderneta, quando a Selic estiver igual ou menor que 8,5% ao ano, como atualmente, a Poupança rende 70% do Juro Básico, somada à Taxa Referencial (TR), que atualmente é zero. Isso tende a empurrar a Poupança para o fim da fila das aplicações oferecidas por bancos e corretoras, que costumam remunerar de 85% a 95% da Selic.
Alerta na previdência
É verdade que, ao contrário da Poupança, a maioria das aplicações, como CDBs, Fundos e Tesouro Direto tem descontos de Imposto de Renda (IR), o que, dependendo das condições oferecidas ao cliente, pode reduzir sua atratividade. Com isso, ganha importância o poder de barganha para conseguir juros mais robustos junto aos gerentes. O mesmo se aplica para negociar taxas de administração mais baixas para os fundos.
— Com a Selic em 6% ao ano, os Fundos de Investimentos terão um rendimento superior às contas da Poupança apenas quando suas taxas de administração não passarem de 1% ao ano — orienta Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Regra similar vale para os planos de previdência privada. Muitos desses produtos aplicam o valor dos clientes em fundos de Renda Fixa, que passaram a render menos. Mas muitas dessas aplicações têm taxa de administração acima de 1% ao ano, derrubando o ganho real do investidor (veja simulações abaixo). A orientação dos consultores financeiros é que os investidores se informem sobre os fundos nos quais seu dinheiro é aplicado, e comparem o resultado ao que obteriam se guardassem no Tesouro Direto, que também é indicado para o longo prazo.
Quatro situações em que a queda da Selic afeta a sua vida
Facilidade no comércio
Quem compra a prazo, no crediário ou parcela no cartão de crédito poderá encontrar juros mais baixos no comércio. Isso porque as redes passam a captar dinheiro mais barato no mercado financeiro, e podem repassar esta vantagem ao cliente.
Geração de emprego
O corte no juro é visto como estímulo a empresas a buscarem crédito mais barato para investir. Consequentemente, a alta na produção das companhias pode levar a novas contratações e aliviar o quadro de desemprego, que atinge 12,8 milhões de pessoas no país.
Investimentos
As aplicações na renda fixa precisam ser recalculadas, e serem submetidas a comparações entre diferentes alternativas. O risco de a aplicação perder para a inflação cresce. Diante da valorização da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), juros mais robustos poderão ser buscados no mercado de ações, que é mais arriscado.
Renegociação de dívidas
O consumidor que tem dívidas de médio e longo prazo, como financiamentos de carro ou casa, pode buscar a renegociação nos contratos, que foram firmados sobre juros maiores, ou até a migração para outros bancos. Esse é um bom momento para fazer a portabilidade de dívidas e pagar menos juros.
Fonte: Educador financeiro Reinaldo Domingos, operador de Renda Fixa da Nova Futura Investimentos, André Alírio, e diretor-executivo da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira.