O preço do tomate disparou em outubro e chama a atenção dos consumidores na Região Metropolitana. Quem faz compras já percebeu o fenômeno e começa a pensar em alternativas para a salada e para o molho do macarrão. Nos últimos dias, em feiras e em supermercados, o quilo encostou nos R$ 9 – mais do que dobrou o preço médio de setembro. A notícia boa é que a alta não será permanente. A ruim é que será preciso esperar algumas semanas.
O principal fator da alta é a safra gaúcha, que se esgotou. O que os consumidores estão comprando hoje vem de Goiás e de São Paulo. O custo dessa logística pesa, principalmente se for considerado o preço dos combustíveis. De acordo com o Dieese, uma amostra disso foi dada em setembro: alta de 10,5% no preço médio do quilo em relação a agosto – de R$ 3,81 para R$ 4,21.
– Ainda não fechamos a cesta básica de outubro, vamos divulgar os índices no dia 7 de novembro. Mas notamos, sim, uma disparada no tomate. O ciclo de produção é curto, e aí vem a necessidade de trazer de fora. Há uma tendência do preço médio do quilo deste mês superar os R$ 6 – projeta a economista do Dieese Daniela Sandi.
A Associação Gaúcha dos Supermercados (Agas) também tem levantamento que identifica um pulo no preço de 30% entre a primeira e a terceira semana de outubro _ R$ 4,42 para R$ 5,75.
O curioso é que, se observados em um prazo maior, os preços estão em baixa. Entre setembro de 2017 e de 2018 (12 meses), a queda no preço acumula 13,55%. Daniela lembra que o tomate não exerce grande pressão sobre a inflação como um todo – trabalho sujo que tem ficado com os combustíveis e a energia elétrica.
A nutricionista do Sesc Comunidade Priscilla Rohmann comenta a alta:
– Costumo dizer que comer alface, tomate e banana o ano todo leva, em algum momento, a se pagar mais por esses produtos. No caso da alface e da banana, a gente sente menos. Mas com o tomate, a diferença salta aos olhos. É a variação natural que tem a ver com a safra e o clima.
O lado bom, segundo ela, é o tomate ser plenamente substituível na mesa. Uma de suas principais substâncias, o licopeno (antioxidante que combate os danos às células), pode ser encontrado em qualquer outra fruta ou legume que tiver coloração avermelhada. Já as fibras e a vitamina C estão também em legumes e verduras como rabanete, cenoura, pimentão, beterraba e alface. Para quem não abre mão do tomate de jeito nenhum, Priscila tem uma dica para se prevenir dos efeitos da safra.
– É possível comprar tomates na safra, quando o preço está bom, e congelar. Nessa condição, a durabilidade é de até seis meses. Se tem pouco espaço no congelador, pode bater os tomates no liquidificador e guardar em forminhas de gelo para ir usando aos poucos _ aconselha a nutricionista.
Com esse preço, nada de compra
A costureira aposentada Reni Alves de Oliveira, 67 anos, encara o tomate, avalia sua forma, sua cor e até imagina o molho suculento que ele renderia para a massa no almoço de família. Após pensar um pouco, ela o devolve de onde tirou.
– No final de semana, encontrei na feira o longa vida custando R$ 6,98 e o gaúcho por R$ 8,98. Não dá para comprar assim. Eu gosto de usar tanto para a salada quanto para fazer molho. Mas tem de dar uma segurada, está caro – avalia ela, que até deu uma conferida nos preços praticados no Mercado Público de Porto Alegre nesta segunda-feira (22).
No Mercado, os valores não conseguem fugir da realidade. O quilo do longa vida também chega aos R$ 9, e o do tomate gaúcho alcança até R$ 15 nas principais bancas. Segundo os comerciantes, outros clientes têm feito como a dona Reni: olhado o preço e preferindo não levar.
Logo em frente, na Praça Parobé, feirantes ainda conseguem oferecer preço mais competitivo: R$ 4 o quilo do longa vida. Mas não imagine filas de consumidores comprando. O feirante Paulo Claudiomar Rodrigues, 49 anos, conta que o consumidor comum também desapareceu.
– O que está nos salvando são as lancherias, que compram tomate de caixa da gente. A venda por quilo caiu muito. Eu ainda consigo vender por um preço melhor, vamos ver. Agora, a safra daqui vai demorar uns 50 dias para chegar. Aí, vai cair muito o preço – conta o comerciante.
Como driblar a alta do tomate
Alternativas
Na salada
– Qualquer outra fruta ou legume avermelhado pode entrar no lugar do tomate. Elas também tem a substância licopeno (antioxidante que combate os danos às células).
– O licopeno está presente, por exemplo, na melancia, na goiaba e no pimentão vermelho.
– Para não perder uma fonte de fibras e de vitamina C, a opção pode ser aproveitar na sala vegetais como repolho, brócolis e couve-flor.
No molho
– O molho de tomate industrializado é a opção mais fácil e cumpre bem o papel.
– Uma alternativa para evitar os conservantes desse molho enlatado é o colorau, pó avermelhado que tem urucum em sua composição, semente que é seca e triturada.
– O colorau engrossa o molho e ressalta sabores de carnes, frangos e ensopados, podendo também ser usado para dar tom avermelhado a uma receita.
Como se prevenir
– O tomate é fácil de ser cultivado. Um dica é aproveitar aquele canto do pátio ou na sacada do apartamento para plantar um pé. Regando todo o dia e deixando exposto à luz, vai crescer e oferecer frutos. Pode ser a reserva especial para quando o preço estiver salgado.
– Na alta da safra, quando o preço baixar, uma boa dica é comprar e armazenar no congelador. Se o espaço for pequeno, se pode bater no liquidificador e guardar em potes menores para descongelar conforme o consumo. Dura até seis meses.