O Brasil tem nove unidades industriais habilitadas para exportação de carne suína aos chineses, sendo duas no Rio Grande do Sul — em Santa Rosa, no Noroeste, e Santo Ângelo, nas Missões. Ambas pertencem à Alibem, empresa brasileira fundada no ano 2000 e que se consolidou como a quinta maior do país em volume de abates.
O diretor-presidente da empresa, José Roberto Goulart, evita dimensionar os reflexos da crise nos negócios da empresa, mas comenta que as exportações ao país asiático ganharam mais vazão sem que outros mercados fossem abandonados. A possibilidade de aumentar a produção, dado o cenário atual, é vista com cautela pelo empresário.
— Precisamos entender o tamanho do problema, como os chineses irão se comportar e o tempo que levarão para se reorganizar. Acho que no segundo semestre poderemos avaliar a situação com mais precisão — analisa Goulart, sem estimar percentual de aumento dos lucros.
Essa epidemia está promovendo uma mudança global, elevando os preços da carne suína no mundo.
JOSÉ ROBERTO GOULART
Diretor-presidente da Alibem
— O que dá pra dizer é que, certamente, 2019 será melhor do que 2018. Essa epidemia está promovendo uma mudança global, elevando os preços da carne suína no mundo – complementou, dizendo que a tendência é de alta também no Brasil, sobretudo a partir de julho.
A avaliação do diretor-presidente é de que a elevação do preço ainda é lenta porque criadores chineses estão abatendo animais sadios precocemente por receio de infecção, retardando a necessidade de importação. Cerca de 800 pequenos produtores rurais trabalham em parceria com a Alibem no sistema de integração, o que contribui para que sejam gerados cerca de 7 mil empregos diretos e indiretos. A empresa fornece leitão, ração, vacina e orientação técnica. Cerca de seis meses depois, recebe o animal pronto para abate.
Perda na casa dos milhões para a soja
Dependente do mercado chinês, os produtores de soja olham para o campo e veem silos cheios de grão sem ter para quem vendê-lo. Estimativa da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja/RS) é de que o setor deixe de arrecadar pelo menos R$ 5,3 bilhões neste ano se o preço da saca continuar nos patamares atuais, de R$ 60. Em 2018, chegou a ser vendido a R$ 80. O deságio afeta, justamente, a melhor safra da história do Rio Grande do Sul, segundo a Conab.
— A movimentação para a China, nosso principal comprador, não está acontecendo. Não sabemos o que vem pela frente, pois o que foi colhido está estocado, com baixa comercialização — lamenta o presidente da entidade, Luís Fernando Fucks.
Para o dirigente, “não há o que fazer”. Ele acredita que, “mais cedo ou mais tarde”, a soja da safra atual será escoada para os chineses, e que o contexto descortina a necessidade de reformas estruturais no país para minimizar essa dependência. Reduzir custos de produção, aumentar a colheita e, assim, atender a novos mercados na Ásia, como Índia, são algumas das possibilidades.
— A China é mestre na arte do comércio e pode estar se aproveitando da situação para baixar o preço da soja — complementou Fucks.