Em um apartamento no terceiro andar de um prédio de uma das principais ruas da zona leste de Caxias do Sul, na Serra, um agricultor de 64 anos levanta cedo todas as manhãs, coloca o boné, pega uma fruta para comer no caminho, entra na caminhonete e percorre um trajeto de 15 a 20 minutos até a propriedade rural onde cultiva frutas junto com dois irmãos.
Pedro Cantele mora há 18 anos no bairro Cruzeiro, onde há principalmente residências, mas também comércio e indústrias. Natural da comunidade de São José da 6ª Légua, interior de Caxias, ele trabalha até hoje na propriedade da família. O agricultor se mudou para o apartamento quando casou com a Adriana. Ela já era moradora do bairro e preferia continuar na cidade. Para Adriana, o apartamento também é uma opção mais segura de moradia. O marido se acostumou e nem pensa em voltar para o interior.
— Meu irmão diz: por que tu não dormes uma noite na colônia? Mas é que eu me acostumei com o apartamento. Todo mundo diz: por que tu não fazes uma casa? Mas minha esposa gosta de apartamento. E depois, na colônia, por exemplo, num sábado tem que cortar a grama, lá se vai uma hora e meia. No inverno, tem que varrer as folhas... — conta Cantele, se referindo ao trabalho extra que não tem no apartamento.
Inclusive, a família irá se mudar para outro apartamento em breve, bem perto do atual, mas onde o prédio tem elevador, e não somente escadas. Eles têm um filho de 16 anos, Gustavo, que frequenta a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).
Agricultores morarem em casas em bairros da área urbana não é incomum em Caxias do Sul, embora não seja a regra. Retrato de uma cidade de quase 500 mil habitantes conhecida por ser um forte polo metalmecânico do Brasil, mas que também tem uma produção agrícola expressiva, marcada pela agricultura familiar - a tradicional colônia, Caxias do Sul é o município que mais fornece produtos para a Ceasa em Porto Alegre.
— Nitidamente, o município de Caxias do Sul é o maior fornecedor — afirma Amauri Pereira, gerente técnico da Ceasa/RS.
Conforme o gerente, os produtores de Caxias e também de municípios do entorno criaram uma relação comercial duradoura com os clientes. Ele destaca o fornecimento de produtos como tomate, cenoura, beterraba, pimentão, repolho, além de frutas diversas como, por exemplo, caqui, ameixa e pêssego, características na produção agrícola da região.
Essas variedades estão entre as cultivadas por Pedro Cantele e seus irmãos. Eles começam a colheita no início de janeiro, com a maçã, e vão até maio, com o caqui chocolate. Parte da produção fica estocada em câmaras frias.
Nos períodos de colheita no verão, o trabalho começa bem cedo, por vezes às 4h, e Cantele só retorna ao apartamento por volta das 21h. No inverno, período de poda, o trabalho começa mais tarde, por vezes até depois das 7h, e ele volta mais cedo para casa também.
Apesar da idade, o agricultor não pensa em parar. Ele tem a preocupação de continuar juntando recursos para custear as despesas com o filho.
Festas para comemorar o Dia do Agricultor
No dia 25 de julho, diversos municípios do Estado comemoraram o dia do agricultor, ou do colono, como dizem na região da Serra, que se orgulha de suas raízes. Em Caxias do Sul, a maior festa do agricultor é no distrito de Fazenda Souza. Na 10ª edição, ela ocorre neste ano de 27 a 29 de julho e de 3 a 5 de agosto. A expectativa da organização é de receber 50 mil visitantes.