Um ano de safra cheia, outro de queda na produção. Quem planta caqui já conhece essa realidade. E, como em 2017 a colheita no Rio Grande do Sul foi recorde de produtividade, com 19,65 toneladas por hectare, neste ano a expectativa já era de redução. Mas o tombo foi maior do que o esperado, com quebra de 55%, ficando em nove toneladas por hectare.
O volume menor também é explicado pelas condições climáticas – com o inverno passado de pouco frio e outono de temperaturas elevadas, que anteciparam o encerramento do ciclo. Além disso, os agricultores assistiram a perdas de frutos nos pomares pela incidência de doenças, especialmente a antracnose.
A fitopatia desestimula o plantio, que encolhe em torno de 5% ao ano nos últimos cinco anos, ocupando hoje cerca de 1,4 mil hectares no Rio Grande do Sul. Mas o menor volume não traz consequências apenas negativas. Quando há fruta em abundância, o preço é menor e o custo aumenta.
– Com queda de volume, a necessidade de trabalhadores reduz porque há menos frutas para colher, classificar e embalar, e também a necessidade de insumos cai, assim como o número de caixas de armazenagem e os gastos com transporte – detalha o engenheiro agrônomo Enio Ângelo Todeschini, assistente regional de fruticultura da Emater de Caxias do Sul.
Foi o que ocorreu na propriedade de Nei Zanette, no distrito de Vila Seca, em Caxias do Sul:
– O preço está compensando, porque estamos trabalhamos menos na colheita e mão de obra é uma questão que encarece – explica, contando que no ano passado chegou a perder fruta nos pomares pelo excesso de produção.
Valorização de 100%
O agricultor viu a safra encolher de 250 toneladas em 2017 para cerca de cem toneladas neste ano. Apesar da redução significativa, Zanette não reclama. Segundo ele, o mercado está bem melhor do que no ano passado, quando o excesso de caquis derrubou os preços. Para se ter uma ideia, o valor do quilo pago ao produtor em 2017 estava em torno de R$ 0,80. Neste ano, está entre R$ 1,50 e R$ 2.
Nos 20 hectares da propriedade são cultivados oito hectares com caqui e seis hectares com uva. Diferentemente de outros produtores, Zanette está ampliando a área com caqui: mais dois hectares com a fruta devem começar a produzir em 2019. O restante é ocupado por pomares de pêssego e ameixa. O cultivo variado ajuda a evitar a dependência do caqui, que vem sendo impactado pela antracnose (veja ao lado). Como a doença não tem tratamento específico, Zanette seguiu orientações técnicas e não teve perdas significativas.
A fruta
– O caqui é de origem japonesa e chinesa.
– Historicamente, o cultivo do caquizeiro era considerado fácil, pois não necessitava de tratamentos intensivos (quase não existiam pragas e doenças) e produzia bem.
Mercado
– Hoje, os principais compradores dos caquis do Sul são as redes de supermercados locais.
– A fruta gaúcha abastece ainda o centro e o nordeste do Brasil.
A doença
– A antracnose, identificada na Serra em 2011, é causada pelo fungo Colletotrichum. É a principal fitopatia que contamina os caquizeirais. Atinge todos os órgãos da planta, com danos maiores nos ramos de mudas novas e frutos de plantas adultas. Pode reduzir a produtividade por perda de brotos, queda prematura de folhas e depreciação visual da fruta (mancha), inviabilizando o comércio. A variedade kyoto (chocolate preto), preferida no sul do país, é a mais atingida.
– A doença impacta a área plantada, que vem caindo 5% ao ano nos últimos cinco anos no RS. Isso porque a fitopatia é de difícil controle.
Cuidados
– São necessárias práticas integradas para eliminar a doença. Produtores que ainda têm frutas remanescentes contaminadas nas plantas, devem coletá-las e enterrá-las. A partir de julho, adotar os tratamentos de inverno com caldas específicas e, na fase vegetativa, é preciso cautela na aplicação de adubo nitrogenado. Já entre outubro e janeiro, os produtores devem realizar a poda verde e os tratamentos foliares durante o ciclo vegetativo.