No Estado, uma das mais recentes apostas é o cultivo de pitaia. Cultivada há seis meses por um grupo de empresários em três municípios gaúchos (Novo Hamburgo, São Francisco de Paula e Jaquirana) os pés começam a dar os primeiros frutos. Com formato escamoso – pitaia significa escama na língua indígena – a fruta recebe o nome de fruta-dragão nos Estados Unidos.
Nos primeiros seis meses, são gerados em média dois frutos por pé, mas com o passar dos anos, o rendimento aumenta, podendo chegar a até 200 frutos em cada árvore. – A produtividade varia conforme a temperatura e o solo. A planta se adapta bem a ambientes com bastante incidência solar e até 1 mil metros de altitude – explica Jorge Jorge Volkweis, que juntamente com Eduardo Borges de Assis, Rafael Peixoto e Alexandre Assis planejam produzir o fruto em grande escala no Rio Grande do Sul.
A produção é toda orgânica e a polinização é feita manualmente à noite, quando a flor da pitaia se abre. A atividade artesanal substitui o trabalho que na natureza é feita por morcegos e garante frutos mais bonitos. Depois de polinizada, a planta frutifica em até 40 dias.
O desafio agora, complementa Eduardo Borges de Assis, é fazer a fruta ser conhecida pelo público. Além de disponibilizar a venda na rede Zaffari, na Capital, os produtores estão promovendo estandes de degustação em unidades da rede:
– É uma fruta saborosa, quando o pessoal prova, gosta e acaba levando. Promove uma sensação de saciedade e é boa para emagrecimento.
Produto local mais barato
Após a estratégia de experimentação com os clientes, as vendas saltaram de 40kg, em média, para 170 kg por semana em cada unidade. A fruta chega às prateleiras, por cerca de R$ 27 o quilo. Antes, quando a rede precisava importar a fruta do México, custava aproximadamente R$ 59.
Produtor rural, Eduardo Assis, responsável por trazer o projeto para os sócios, conta que a ideia era iniciar mais um negócio, mas com um produto que trouxesse benefícios reais e importantes para as pessoas.
– A recomendação para os agricultores é sempre em uma perspectiva conservadora em termos de expansão. Tomando cuidado para não se empolgar demais, se descapitalizar, já que não há garantia de sucesso – afirma o assistente técnico de fruticultura da Emater, Derli Paulo Bonine.
Algumas frutas exóticas não se popularizam porque produtores acabam esbarrando em dificuldade de manejo, falta de tecnologia adequada ou até mesmo conhecimento específico para cultivo da variedade. Bonine lembra, no entanto, que a desconfiança do público não se restringe a frutas exóticas. Frutos típicos do Estado, como guabiroba, araçá e pitanga, também não costumam fazer parte da lista do supermercado. Enquanto, mamão, banana e maçã, que não são naturais do Brasil, são bastante convencionais.
– O filtro para a popularização é o próprio hábito alimentar. Se não tem muita procura, também não há oferta. Se você quer comprar algo mais específico, até consegue encontrar nos grandes centros, mas quase nunca em comércio locais – resume.
A Ceasa não costuma acompanhar o desempenho da venda de frutas com mercado restrito, como é o caso de frutas não tão convencionais, mas pelo menos quatro empresas atuam na comercialização deste tipo de produto, explica Claiton Colvelo, da gerência técnica.
– Frutas que antes eram consideradas “diferentes” hoje não são mais. A graviola, por exemplo, começou com uma venda acanhada e atualmente tem bastante saída. Por outro lado, certas variedades vão desaparecendo com o tempo, como é o caso de alguns tipos de uvas – afirma.
Proprietário de uma empresa atacadista especializada em alimentos “exóticos”, Paulo Cesar Alves Escobar ressalta que apesar do número restrito de clientes, frutas “diferentes” têm um público cativo e o preço elevado acaba por compensar a pequena quantidade comercializada. O preço do quilo da framboesa, exemplifica, pode chegar a R$ 120, e do mirtilo até R$ 100.
– Pitaia, quina, seriguela, tamarindo jenipapo, sapoti. Sempre tem uma fruta na “moda” e o consumo dispara, mas dificilmente alguma sai de circulação – conta Escobar, que traz praticamente todas as frutas que comercializa de fora do Estado, a maioria da Ceasa de São Paulo.
PITAIA
Também é chamada de fruta-dragão em algumas línguas, como o inglês. Como a planta só floresce pela noite – com grandes flores brancas – são também chamadas de flor-da-noite.
Origem: É nativa de regiões da América Central e México.
Características: Existem três variedades da fruta que se diferenciam apenas pela cor de sua camada externa, e pelo colorido interno. Todas têm como principal característica o formato e a pele escamosa.
Sabor: É similar nas três variedades, sendo bastante doce quando madura. Propriedades: Possui propriedades antioxidantes, o que ajuda na prevenção dos radicais livres, que ajudam no acumulo de gordura. Tem alto teor de vitamina C, reduzindo as chances de pegar um resfriado. Pitaias também apresentam forte presença de minerais como o ferro (variedade vermelha) e o zinco (variedade amarela), bem como de fibras, que auxiliam no bom funcionamento do intestino.
Cultivo: Pode ser feito entre temperaturas de 18° a 26°C, em nível do mar ou até mais de 1.000 metros de altitude. Deve sempre guiá-las com escoras. É fundamental para que o pé cresça saudável e produza bem.
Especialista em cultivo de estrangeiras
O produtor Deonelo Debiasi pode ser considerado um “especialista” no cultivo de frutas exóticas. Na propriedade de 50 hectares, localizada em Tuiuty, interior de Bento Gonçalves, seis hectares são dedicados para o cultivo de atemoia, que é obtida através do cruzamento de outras duas frutas nada convencionais: a cherimólia e a fruta-do-conde. E não é só isso, uma pequena área do terreno abriga o cultivo de seriguela, rambutan, bacupari e lichia.
O principal investimento, no entanto, continua sendo nos parreirais de uva.
– É uma renda importante, mas extra. Como não é muito conhecida, não podemos apostar todas fichas na atemoia. Agora estamos investindo em outras frutas, mas é uma fase de testes. Primeiro precisamos aprender mais sobre elas e ver a adaptação à terra – conta Debiasi, que através de distribuidores vende a fruta para todas regiões do Brasil.
O agricultor conta que o cultivo de atemoia não é tão exigente no controle de pragas quanto à uva, mas que são necessários de quatro a cinco aplicações de agroquímicos para o combate de doenças.
As primeiras mudas, que chegaram até Debiasi como presente de um amigo que visitara o Equador, foram plantadas em 2000. Os primeiros frutos foram colhidos apenas quatro anos depois – tempo necessário para o amadurecimento da atemoia no pé.
Para o plantio, conta o produtor, são necessárias terra fértil e irrigação. O preço do quilo do fruto deve chegar a R$ 5 este ano, estima Debiasi.
ATEMOIA
Conforme a região, recebe o nome de anona, cabeça-de-negro e até quaresma.
Origem: É resultado do cruzamento da fruta-do-conde e a cherimoia. Nativa da África do Sul e Israel.
Características: Possui uma casca rugosa e pontiaguda, como a da graviola, trazendo em seu interior uma polpa branca, ou levemente amarelada, com sementes negras.
Sabor: Doce. A polpa é saborosa e macia e as sementes soltas. Pode ser consumida “de colher”, como um mamão.
Propriedades: Rica em carboidratos simples, especialmente açúcares. Tem a presença de fibras insolúveis, boas para o intestino, e de vitamina C, um poderoso antioxidante, que também participa da produção de colágeno. Se destaca ainda no teor de potássio, que ajuda no controle dos líquidos corporais e na contração dos músculos.
Cultivo: Se adapta bem a clima tropicais e subtropicais e em vários tipos de solo, mas prefere os bem drenados. Não tolera geada nem temperaturas muito baixas. Prefere inverno seco e precipitação bem distribuída no período vegetativo. As temperaturas mais propícias variam de 10ºC a 28ºC.