Uma investigação das Nações Unidas concluiu que Israel efetuou "atos genocidas" na Faixa de Gaza com a destruição sistemática de instalações de saúde sexual e reprodutiva.
A Comissão de Investigação da ONU afirma que Israel "atacou e destruiu de maneira intencional" o principal centro de fertilidade do território palestino. Além disso, bloqueou a entrada de medicação necessária para a gravidez, parto e cuidados neonatais.
A missão diplomática israelense em Genebra afirmou que o país "rejeita categoricamente as alegações infundadas".
A comissão, no entanto, acusa as autoridades israelenses pela "destruição parcial da capacidade reprodutiva dos palestinos em Gaza como grupo através da destruição sistemática do sistema de saúde sexual e reprodutiva".
Segundo os investigadores, a prática se enquadra em duas das cinco categorias definidas pela Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio: a "submissão intencional do grupo a condições de existência que acarretem sua destruição física, total ou parcial" e a imposição de "medidas destinadas a impedir nascimentos no grupo".
A comissão foi criada em maio de 2021 para investigar as supostas violações do direito internacional em Israel e nos Territórios Palestinos.
Ela é presidida por Navi Pillay, ex-comissário da ONU para os Direitos Humanos, que já foi juíza no Tribunal Penal Internacional e presidiu o Tribunal Penal Internacional para Ruanda.
Israel acusa o painel de três investigadores de trabalhar "com uma agenda política tendenciosa e pré-determinada (...) em uma tentativa sem vergonha de incriminar as Forças de Defesa de Israel".
- Destruição de 4.000 embriões -
O relatório afirma que os hospitais e departamentos de maternidade em Gaza foram sistematicamente destruídos, assim como a principal clínica de fertilização in vitro do território, bombardeada em dezembro de 2023.
A comissão acredita que o ataque foi intencional e não encontrou nenhuma evidência confiável de uso militar da clínica, que armazenava 4.000 embriões.
Assim, a comissão conclui que a destruição "foi uma medida direcionada a impedir os nascimentos de palestinos em Gaza, o que é um ato genocida".
O relatório aborda o uso sistemático de violência sexual, reprodutiva e de gênero pelo exército israelense desde o início da guerra em Gaza, desencadeada pelo ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023.
Durante a semana, a comissão organizou audiências públicas em Genebra para ouvir vítimas e testemunhas de violência sexual.
A investigação conclui que Israel estabeleceu mulheres e meninas civis como alvos diretos, atos que constituem crimes de guerra e contra a humanidade.
Também estabelece que mulheres e meninas morreram vítimas de complicações vinculadas à gravidez e ao parto devido ao impacto na saúde reprodutiva das condições impostas pelas autoridades israelenses, "atos que representam um crime contra a humanidade de extermínio".
A comissão acrescentou que forçar as mulheres a se despirem em público, o assédio sexual e as ameaças de estupro fazem parte "dos procedimentos operacionais habituais" das forças israelenses em relação às palestinas.
* AFP