Em uma feira promovida por uma cooperativa, a Cotrijal, a gestão desse modelo criado pelo associativismo é evidente. Por isso, o Campo em Debate, evento promovido pelo Campo e Lavoura, de Zero Hora, trouxe especialistas para discutir a importância do tema na manhã desta quinta-feira (8), no parque da Expodireto, em Não-Me-Toque.
Mediado pela colunista Gisele Loeblein, o debate reuniu Marcelo Schwalbert, superintendente administrativo-financeiro da Cotrijal, Vergilio Perius, presidente do Sistema Ocergs/Sescoop, e Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do RS.
O cooperativismo tem ajudado no desenvolvimento do Estado. Em 2017, as cooperativas do setor agropecuário tiveram faturamento superior a R$ 20 bilhões, com um acréscimo de R$ 1,2 bilhão em relação a 2016.
Se por um lado existem histórias como a da Cotrijal, que em 2017 faturou R$ 1,7 bilhão, por outro, há casos de cooperativas como a Cotrijui, que vê sua atividade comprometida pelo endividamento — valor é de, pelo menos, R$ 1,8 bilhão.
Durante o debate, Perius disse acreditar na recuperação da cooperativa de Ijuí, desde que sejam mantidos o patrimônio e os sócios. Mais do que isso, o dirigente acredita que as cooperativas se fortalecem em períodos difíceis:
— O cooperativismo, na crise, analisa, planeja, organiza, debate. A resiliência é o grande diferencial (frente a outros modelos de negócio). Nós crescemos na crise e os investimentos são até às vezes superiores. A crise é nossa aliada. Não que precisamos torcer por ela, mas as pessoas se unem mais na crise, enquanto o capital se divide.
Representando bom exemplo de gestão, o superintendente administrativo-financeiro da Cotrijal, Marcelo Schwalbert, dividiu com o público algumas dicas de como a cooperativa de Não-Me-Toque é administrada.
— Resumo em dois pontos: organização do quadro social e que ele seja atuante. Uma cooperativa tem de ser administrada como uma empresa. Os colaboradores precisam ser desenvolvidos e especializados na área deles, porque nenhuma pessoa é boa em tudo — afirmou.
Paulo Pires concordou que é preciso gerir uma cooperativa como uma empresa e que os produtores precisam participar, mas não em todo o processo.
— O cooperativismo é o melhor modelo, porque é transparente e alicerçado nas pessoas. No entanto, participação efetiva dos cooperativados não quer dizer que eles precisam atuar na questão financeira. A estratégia, para onde a cooperativa quer ir e que papel quer exercer, são coisas que não se pode tirar do associado, porque ele é o dono. Mas para a questão operacional é preciso ter pessoas focadas nisso e bem preparadas — salientou o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado.
Outro ponto reforçado pelos debatedores está na necessidade de desenvolver mecanismos de monitoramento para que se detecte sinais de crise antes que ela efetivamente seja instaurada.
Autogestão, desenvolvimento dos colaboradores através de educação, planejamento a médio e longo prazo, além de união entre cooperativas, foram apontados como elementos essenciais.
— Nossa indústria é a céu aberto e sabemos que um dia vai ter maior dificuldade. Por isso, é preciso aproveitar anos bons, mas estar preparado para os ruins — pontuou Schwalbert.