Uma das mais respeitadas instituições científicas do país, reconhecida inclusive no Exterior, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foi atingida pela crise de recursos, assim como as universidades públicas. Para todo o país, o orçamento total foi reduzido de R$ 3,19 bilhões em 2016 para R$ 2,22 bilhões neste ano – queda de 30%. A redução de verbas é sentida pelos pesquisadores, com menos editais, restrições de viagens a eventos científicos e até mesmo para ir a campo.
Na Embrapa Trigo, em Passo Fundo, no norte do Estado, os ensaios em lavouras experimentais de soja e trigo tiveram de ser reduzidos quase pela metade.
– Experimentos que eram feitos em 10 locais, são realizados em cinco. Resultados que sairiam em três anos, demorarão cinco anos – relata Osvaldo Vasconcellos Vieira, chefe-geral da unidade.
A situação poderia ser pior não fossem as parcerias com a iniciativa privada, incluindo produtores de sementes, empresas e universidades – que respondem por quase 40% do orçamento da unidade, segundo Vieira. Desenvolvedora de 95% das cultivares de cevada que estão no mercado, a Embrapa Trigo recebe royalties da semente.
– A arrecadação ainda é baixa, mas ajuda – conta o pesquisador.
Participação do setor privado ainda é baixo
A necessidade de aumentar os recursos pela cobrança de tecnologias desenvolvidas deve ser reforçada na repaginação planejada para a Embrapa. Ainda em gestação, a transformação visa reaproximar a empresa do mercado, reduzir a burocracia e a dependência de recursos da União.
– É preciso discutir as funções pública e privada da pesquisa agropecuária no Brasil. Os interesses da Embrapa precisam ser convergentes com o mercado também – afirma Luiz Clovis Belarmino, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, com sede em Pelotas, no sul do Estado.
A aproximação maior do mercado e o aumento de parcerias é um desejo do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que comanda a mudança de foco da empresa pública – com mais de 9,6 mil funcionários.
– A prospecção de demanda tecnológica tem de ser feita com a participação efetiva do setor privado, que hoje representa menos de 10% do orçamento da Embrapa – reforça Belarmino.
A unidade Clima Temperado também teve de se adequar ao contingenciamento de recursos, diminuindo o número de idas a campo e a participação de pesquisadores em eventos. Especialistas reclamam ainda da redução de editais para novos projetos.
A crise na pesquisa foi acentuada no Estado com a extinção da Fundação de Pesquisa Agropecuária do RS (Fepagro) neste ano. Para reduzir despesas, o governo determinou o fechamento da instituição. Os mais de 200 funcionários estatutários, incluindo pesquisadores, foram realocados na Secretaria da Agricultura. A reclamação é de que, sem a fundação, é mais difícil participar de editais públicos que fomentam pesquisas no setor – perdendo cada vez mais terreno.