Uma vida sexual ativa e satisfatória é o desejo de muitas. Mas manter a libido em alta nem sempre é fácil. No livro Onde está a minha libido?, a endocrinologista Lorena Lima Amato inspira-se em mulheres extremamente atarefadas para explicar o que pode estar atrapalhando a vontade de transar.
"Comentando sobre esse livro com uma querida amiga, ela me disse: 'É fácil ter libido, é só eu passar uns dias em Bali com o meu marido, de biquíni o dia todo e as contas pagas, que vou pensar em sexo o dia inteiro'. É bem verdade, mas, enquanto isso não acontece, vou te ajudar a encontrar a tão cobiçada libido", exemplifica ela, bem-humorada, na introdução da obra.
A médica afirma que a diminuição da libido é uma queixa frequente entre as mulheres no consultório.
— Muitas não tocam no assunto com seus médicos, ficam anos sem viver a sexualidade de forma plena. E, às vezes, o que falta é somente um pouco mais de informação, quebrar mitos. Falar sobre o assunto já traz, de certa forma, maior liberdade entre as mulheres — opina.
Falta de libido: quais podem ser o motivos?
Consultamos ainda as ginecologistas e sexólogas Florence Zanchetta Coelho Marques e Fernanda Grossi para listar fatores que podem interferir no desejo de fazer sexo.
Alterações hormonais
Há alterações endocrinológicas específicas que interferem na libido, explica Lorena. Por exemplo, a prolactina alta, que acontece em situações fisiológicas, como durante a amamentação pós-parto, e patológicas, em casos de tumores e hipófises.
Ainda existem outras alterações hormonais, como o hipotireoidismo, e as decorrentes da menopausa, com a queda do estrogênio, que também interferem significativamente neste âmbito.
Doenças e uso de medicamentos
Muitas doenças, quando não adequadamente tratadas, como hipertensão, diabetes e enxaqueca, podem interferir negativamente na libido, bem como seus tratamentos (por exemplo, quando envolvem o uso crônico de ansiolíticos, antidepressivos, hipnóticos, antialérgicos, anti-hipertensivos e anticoncepcionais, entre outros), apontam as médicas.
A dica é conversar a respeito com o seu médico. Não é recomendado suspender um tratamento se houver alteração na resposta sexual, uma vez que a própria condição da doença também pode provocar até mais se não estiver sob controle.
Transtornos psicológicos, como depressão e ansiedade, além do estresse (ainda mais quando vinculado à privação de sono), também são fatores bastante comuns para a baixa na libido.
— A pessoa deprimida não tem "energia" para nada e acaba direcionando-a para o que é vital, excluindo o sexo. Estresse e ansiedade causam um impacto semelhante, pois interferem diretamente no humor e na disposição — explica Florence.
Se esse for o seu caso, não deixe de procurar ajuda e, se necessário, além de terapia, busque tratamento com psiquiatra, para que ele avalie o uso de medicamentos. As médicas ainda lembram que hábitos saudáveis, como boa alimentação, prática de exercícios físicos e sono de qualidade, ajudam na melhora da depressão e no alívio do estresse e da ansiedade.
Por fim, disfunções sexuais do (a) parceiro (a) também podem interferir na libido da mulher.
— A sensação de que a relação não foi satisfatória faz com que a mulher perca o interesse e deixe de ver o sexo como uma atividade prazerosa — diz Fernanda.
Dor
É claro que, quando a mulher sente dor durante o sexo, não vai ter vontade de repetir a relação. Falta de lubrificação e doenças ginecológicas podem estar associadas, como dispareunia e vaginismo. A dor deve sempre ser investigada com ajuda médica.
Uma atenção especial às mulheres na pós-menopausa: por conta da falta do estrogênio, elas podem ter vagina atrófica (ou seja, ressecada, não elástica), chamada de Síndrome Urogenital da Menopausa, que causa dor no sexo. Neste caso, lubrificantes, hidratantes, terapia hormonal e laser genital podem ser prescritos.
Álcool
Sim: consumo excessivo de álcool pode interferir negativamente na atividade sexual, apesar do efeito desinibitório. Moderação é a dica das médicas.
Dia a dia
Em 2000, a psiquiatra canadense Rosemary Basson propôs uma mudança no olhar sobre a diminuição da libido feminina ao mostrar que 80% das mulheres em relacionamentos estáveis não apresentam desejo sexual espontaneamente, lembra Florence. A relação sexual, nestes casos, costuma ser iniciada por outras motivações, como desejo de intimidade, vontade de sentir prazer e de se sentir amada. Com a evolução de carícias e do jogo amoroso, aí sim aparece o desejo sexual.
Ou seja, problemas de rotina, como cansaço, estresse, sobrecarga de trabalho e afazeres, fazem com que a mulher pense menos em sexo e tenha "preguiça" de ter relações sexuais. Logo, não inicia o jogo sexual de forma espontânea. Mas o desejo aparece, sim, de forma responsiva, o que é configurado como uma resposta sexual normal. É diferente da mulher em que o desejo sexual não aparece em nenhum momento, pontua a ginecologista.
Cortejar a mulher ao longo do dia, estimular o pensamento em sexo, programar o dia do casal, investir em qualidade (e não em quantidade), fazer uso de brinquedos sexuais, praticar fantasias e, no caso de casais com filhos, deixar os pequenos com alguém de confiança de vez em quando para investir no relacionamento estão entre as dicas da sexóloga.
Fernanda acrescenta ainda que, quando o sexo perde lugar na lista de tarefas, é preciso realocar as prioridades.
— Ao entender que a atividade sexual pode ser iniciada a partir de uma "neutralidade", ou seja, sem uma motivação intensa, mas com o objetivo de intimidade e bem-estar, pode tornar-se mais produtiva. Quando deixamos a transa por último, pode não haver disposição física e mental para curtir da melhor forma — reforça a sexóloga.
Relacionamento
Por último, mas não menos importante, já que esta é uma das causas mais comuns, casais com dificuldades e conflitos entre si podem apresentar falta de desejo sexual. Principalmente em relações mais duradouras, também pode existir uma espécie de "acomodação" sexual, quando o investimento em conquista e em sedução é deixado de lado.
Nestes casos, as sexólogas recomendam estimular a criatividade e os mistérios, buscar aproximação fora da cena sexual com mensagens, toques e lembranças de bons momentos, além de ter investir (muito!) no diálogo.
— Isso estimula o pensamento erótico e auxilia a resgatar aquele desejo comum do início — pontua Fernanda.
Se nada der certo, também é recomendado buscar ajuda profissional.
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Onde está minha libido? está disponível na versão online e pode ser adquirido no site endocrino.pro e no Instagram @dra.lorenaendocrino
*Produção: Luísa Tessuto