Famoso por ser intenso e vibrante, o "sexo de reconciliação" (aquele que põe fim – ou ao menos dá uma trégua – a um conflito) costuma excitar quem busca emoção na relação a dois. Mas, afinal, por que a intimidade após uma briga traz tantas sensações contraditórias? E, com o tempo, o hábito pode ser prejudicial?
Para a psicóloga e terapeuta sexual Laura Meyer, este tipo de relação traz à tona as lembranças do início do relacionamento.
— Gera muito prazer pelo alívio em restabelecer a relação, reforçando o vínculo do casal, pois é o medo de perder a pessoa que desencadeia esse processo. Muitas vezes, serve para interromper a briga ou porque a sensação de raiva provoca excitação sexual — avalia.
Neste contexto, é comum o sexo acontecer em um "misto de amor e ódio", explica a terapeuta, e aí pode ser mais violento.
— Podemos pensar em vingança, uma atitude sádica da parte de quem está com raiva e masoquista do outro, que aceita. É um exemplo do que pode acontecer. Nem todo sexo de reconciliação tem o mesmo motivo. A origem não é a mesma para todos — ressalta.
Também existe o sexo de reconciliação após um período de separação.
— Nesse caso, costuma ser mais intenso porque eles estavam com saudades, ficaram muito tempo sem transar, procuram então compensar dando o seu melhor — afirma Laura.
O sexo deve ser consequência de uma conexão íntima, um resultado do equilíbrio entre expressão de desejos, construção de erotismo, sensações de prazer e diálogo, que permita comunicar ao outro fantasias, vontades e satisfações, defende a psicóloga especialista em terapia sexual Jamile Peixoto Pereira. Por isso, a prática de transar após uma briga não pode ser um hábito.
— O sexo de reconciliação entra como uma resposta a algum nível de conflitiva, em que se aposta que uma certa "química" sexual intensa poderia dar conta de solucionar. Como prática em si, pode até excitar alguns casais e, momentaneamente, aumentar a energia sexual. A questão é a manutenção desta prática como um processo de habituação, em que para a excitação seja fundamental um conflito. Assim, sempre se fará necessária a criação de uma discussão, briga ou rompimento para que o tesão possa ascender e o sexo acontecer — alerta a especialista.
Conversar é fundamental
Então, não custa ressaltar: só porque vocês transaram não significa que o conflito foi resolvido, alertam as psicólogas.
— Achar que está tudo bem é uma falsa ilusão de entendimento. O diálogo é imprescindível para o bom funcionamento de um relacionamento. Nesse caso, o sexo veio a serviço de desviar atenção, terminando com a discussão. É só uma transferência temporária, porque vai voltar. Tudo que não resolvemos, volta — diz a psicóloga e terapeuta sexual Laura Meyer.
Por isso, é claro, não é recomendando provocar uma briga para conseguir esse tipo de excitação.
— Em casais com relacionamentos disfuncionais, se esse tipo de solução se repete com frequência, pode gerar culpa, insatisfação, mágoas, ressentimentos. Com isso, o relacionamento vai se desgastando ao ponto de terminar — acrescenta Laura.
Na literatura, em letras de músicas e no cinema não raro é enfatizada a ideia de que amor e raiva andam lado a lado. A psicóloga especialista em terapia sexual Jamile Peixoto Pereira questiona se, na vida real, esta combinação se sustenta, principalmente, após anos de convivência.
— Pode ser que, em algumas situações, possa apimentar a relação, mas não pode se tornar um hábito. É preciso entender o que aquela necessidade de reconciliar para transar está querendo sinalizar, o que está por trás. Pode ser uma pista de que a relação precisa ampliar o repertório, ajustar a comunicação e aprender a curtir o sexo como um processo, uma construção erótica, uma química que precisa de constante investimento, dedicação e atenção — conclui.
*Produção: Luísa Tessuto