A psicopedagoga Beatriz Macedo, 30 anos, havia optado pelo método contraceptivo DIU –sigla para dispositivo intrauterino – em março, cerca de um ano após dar à luz sua primeira filha. Adepta do coletor menstrual, alternativa cada vez mais comum entre as mulheres para substituir os absorventes descartáveis durante a menstruação, se viu incrédula com uma situação, três meses depois. Ao retirar o copinho, deparou-se com o DIU "boiando" dentro dele. Ela resolveu escrever sobre o caso no Twitter e a publicação ganhou mais de 7 mil curtidas e 900 respostas.
"Se você usa DIU e coletor menstrual, fica aqui meu alerta. Eu tenho certeza que eu tava tirando todo o vácuo do copinho antes de puxar, mas aparentemente não. Hoje ele saiu e tava dentro do copinho e sabe Deus há quanto tempo estava fora do lugar. Cuidado aí", publicou ela em seu perfil.
Procurada por Donna, Beatriz contou que, após o episódio, colocou outro DIU, mas não teve coragem de voltar a usar o coletor. Por isso, agora opta por discos menstruais, que não fazem vácuo para segurar o sangue e são dobrados de forma mais simples na vagina.
Teoria x prática
A ginecologista Camila Bessow pontua que existem poucas pesquisas sobre essa combinação específica. Estudos antigos demonstram que o coletor menstrual não aumentaria o risco de expulsão do DIU, mas, de 2019 para cá, foram lançadas descobertas que dizem o contrário, relata. Contudo, a especialista alerta que ainda não há embasamento para afirmar que as expulsões relatadas pelas mulheres com DIU foram causadas pelo coletor.
Outro ponto relevante é que o dispositivo e o copinho são posicionados em lugares diferentes do corpo. Enquanto o método contraceptivo se aloja dentro da cavidade do útero, o coletor é inserido na vagina.
Porém, vale atentar para um detalhe: o DIU traz um fio, que é cortado após a inserção, medindo então cerca de um centímetro. Ele serve para que o médico possa checar se o dispositivo permanece no lugar certo, na cavidade do útero, além de auxiliar na sua retirada em consultório. Uma das hipóteses é que esta "cordinha" seja a causa da interação indesejada entre os itens.
— Em teoria, eles não deveriam se encontrar. Mas, na prática, o que se vê é que, principalmente, se o fio está mais comprido ou se o coletor é inserido muito ao fundo da vagina, pode existir um aumento do risco de expulsão do DIU. O fio pode acabar enrolando no coletor e aí, quando a mulher tirá-lo, o DIU pode sair junto — descreve.
Para reduzir o risco
Mesmo com os relatos sobre a possível relação entre a expulsão do DIU e o uso do coletor menstrual, ginecologistas afirmam que não há contraindicação para o uso simultâneo dos itens. Existem, no entanto, alguns cuidados que podem reduzir o risco, como informar ao médico sobre o uso do copinho, para garantir que o fio do contraceptivo seja cortado, mantendo, no máximo, um centímetro e meio de comprimento.
Vácuo
Conforme explica a ginecologista Rafaela Donato, o coletor armazena o fluxo menstrual por meio de vácuo entre as paredes da vagina e, assim, impede o sangue de vazar. Na hora de retirá-lo, essa tensão precisa cessar.
— Com o vácuo desfeito por completo, é pouco provável que um DIU bem posicionado consiga ser tracionado e retirado — opina.
Coletor adequado
Outra questão importante é que a mulher esteja usando um tamanho adequado de coletor, alerta a ginecologista Camila Bessow.
— Se está usando um muito grande ou muito pequeno para sua vagina, pode ser que exista um aumento do risco de expulsão — afirma ela.
Acompanhamento médico
Não custa reforçar que o acompanhamento médico regular para mulheres com DIU é fundamental. Além da revisão, dessa forma elas ficam mais tranquilas e com a certeza de que estão protegidas. Conforme explica Rafaela Donato, se o contraceptivo já está deslocado, é muito mais fácil que a expulsão aconteça.
Em resumo, as mulheres podem, sim, usar os dois itens ao mesmo tempo, desde que fiquem atentas aos cuidados citados acima e busquem sempre orientação médica. O uso de discos menstruais, mencionado por Beatriz Macedo no início desta matéria, também é uma das indicações das especialistas.
*Produção: Luísa Tessuto