As millenials nem devem conhecer a marca, mas o Modess era um símbolo de liberdade nas campanhas publicitárias dos anos 1970. O primeiro absorvente descartável vendido no Brasil mostrava, na televisão, mulheres jovens em situações de lazer, apelando para a segurança de executar diversos movimentos - e vestindo calça branca! De tão famosa, a marca da Johnson & Johnson virou sinônimo do produto de qualquer fabricante - e ainda hoje está no vocabulário de mães e avós com mais de 50 anos.
O item que tanta praticidade deu às mulheres que começavam a ganhar o mercado de trabalho é hoje o vilão das adeptas do coletor e das calcinhas menstruais. É para se livrar do produto descartável que elas escolheram opções mais ecológicas. Enquanto um absorvente não-reutilizável pode levar até 500 anos para se decompor, o coletor e as calcinhas podem ser usados por anos.
Recentemente, a nova onda ganhou um reforço: a Sempre Livre, da pioneira Johnson & Johnson, lançou uma calcinha menstrual em parceria com a Pantys, uma das primeiras fabricantes brasileiras do produto. Novas marcas de lingeries, biquínis e coletores menstruais se multiplicam e ganham cada vez mais adeptas, mas ainda em meio a muitas dúvidas.
- Como ainda não se popularizou completamente, temos pouco retorno das pacientes e poucos estudos sobre os produtos - observa a ginecologista Sabrina Soraia Schroeder.
Quem já adotou o coletor - ou copinho - garante que é uma questão de tempo para se adaptar e celebra a mesma sensação declarada pelas modelos setentistas do Modess: liberdade. O coletor demanda uma disposição da mulher em conhecer seu corpo, diz Sabrina. Assim como o descartável interno, ele é inserido na vagina, mas, diferentemente daquele, fica mais na entrada do canal, região mais sensível, e, por isso, pode ser necessário um tempo de adaptação da mulher.
As fabricantes dos coletores garantem que a mulher não deve sentir dor e nem a presença do coletor. Mas são comuns relatos de desconforto nas primeiras tentativas. Nesses casos, o recomendável é remover o item e reinseri-lo, até que ele fique cômodo.
Para colocar (o coletor), a mulher tem que tocar o corpo, não ter medo, se conhecer.
SABRINA SORAIA SCHROEDER
Ginecologista
- Às vezes, ele fica dobrado e o sangue pode vazar. Para colocar, a mulher tem que tocar o corpo, não ter medo, se conhecer - observa Sabrina.
Tabu e a “compra silenciosa”
Para muitas mulheres, o autoconhecimento é um benefício trazido pelo coletor. Para outras, ainda é tabu falar em menstruação, quanto mais inserir o dedo na vagina para checar se o coletor não está dobrado. É uma questão cultural. Nos anos 1920, quando começou a vender seus primeiros absorventes nos Estados Unidos, a Johnson & Johnson oferecia “cupons de compra silenciosa” para as clientes. O papel onde se lia “Uma caixa de Modess, por favor” era entregue para quem estava do lado de lá do balcão e, assim, as mulheres realizavam a compra sem precisar verbalizar a palavrinha que poderia ruborizar suas bochechas.
Já as calcinhas dispensam o contato mais íntimo com o corpo e também são opção mais ecológica. Quem tem alergia aos materiais dos descartáveis, especialmente os externos, que ficam em contato com a pele, encontram no copinho ou nas calcinhas menstruais uma alternativa mais saudável. Produzidas com tecidos hipoalergênicos, as novas calcinhas têm design variados e semelhantes a lingeries comuns, com a diferença de uma parte levemente mais grossa, que absorve o sangue.
Mas, como todo produto reutilizável, o coletor não é tão prático quanto jogar o absorvente descartável no lixo. Feito de silicone hipoalergênico, o coletor precisa ser bem higienizado entre um uso e outro. Por outro lado, dependendo da intensidade do fluxo, é possível usá-lo por até 12 horas - para os descartáveis, é recomendável usá-lo por no máximo 8 horas. Nesse quesito, menos práticas ainda são as calcinhas, que, embora possam ser lavadas na máquina de lavar, nem sempre podem ir à secadora, dependendo da marca.
Para entender as vantagens e desvantagens de cada uma dessas opções, Donna consultou as ginecologistas Sabrina Soraia Schroeder, da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirgs), e Juliana Pierobon, da Altacasa Clínica Médica, de São Paulo, além de leitoras que participam do Grupo de Mães no Facebook.
Tire suas dúvidas sobre coletor e calcinha menstrual
O que são ?
Maleável, o coletor é feito de silicone hipoalergênico. Parece um funil, aberto apenas em uma ponta - por motivos óbvios -, a de diâmetro maior. Essa é a parte que vai entrar primeiro na vagina, e por onde o sangue entra para ficar armazenado.
A calcinha têm diversas camadas que prometem alta capacidade de absorção. Os modelos variam de acordo com o fluxo, de leve a intenso.
Dói para inserir o coletor?
Algumas mulheres relatam cólicas, mas, de acordo com a ginecologista Sabrina Schroeder, são desconfortos comuns do período de adaptação. Com a prática, a mulher tende a descobrir a melhor forma de colocá-lo sem complicações. Quem já usa absorvente interno sabe que é preciso, por exemplo, estar relaxada para inseri-lo na vagina com mais facilidade.
Eu vou sentir que estou com o coletor? E com a calcinha?
Diferentemente do absorvente interno, o coletor deve ficar mais próximo da entrada da vagina, que é uma parte mais sensível. Então é possível que você sinta o item se ele não for bem colocado. Pode ser que a pequena haste pela qual você o remove incomode, mas você pode cortá-la conforme indicação da fabricante.
As calcinhas são mais finas do que os absorventes externos. Dificilmente você irá sentir diferença em relação a uma lingerie comum.
Quando é hora de trocar?
O máximo de tempo sem troca é 12 horas, para coletores e calcinhas. Mas depende do seu fluxo. É recomendável fazer os primeiros testes em casa para saber quando é hora de trocar. No caso da calcinha, se sentiu que está úmida, troque.
Dá cheiro?
No coletor, como o sangue não entra em contato com o ar, não há cheiro. Nas calcinhas, embora algumas tenham tecidos com bloqueadores de odor, a depender da intensidade do fluxo, pode dar cheiro sim.
Vaza?
Os fabricantes dizem que não desde que seguidas as orientações sobre a colocação e o período máximo de uso. Também é preciso escolher o modelo certo para cada perfil de mulher (leia sobre modelos e tamanhos a seguir). Mas são muito comuns relatos de vazamentos. Uma dica é o uso combinado de copinho com a calcinha. Se vazar, a peça de tecido segura bem.
Como escolher o modelo e o tamanho?
Os coletores são vendidos em tamanhos que variam de acordo com o fluxo ou critérios como idade ou se a mulher já teve filhos por parto normal.
Já os modelos das calcinhas se dividem pela intensidade do fluxo. Há relatos de dificuldade de achar o tamanho ideal para variados tipos de corpos, especialmente nas compra online. O ideal é experimentar as peças - em Porto Alegre, há lojas físicas com diferentes opções de marcas.
A calcinha dá sensação de molhado?
Os modelos costumam variar de acordo com a recomendação para o fluxo. Em dias de muito fluxo ou se você passa muitas horas sem trocar, pode sentir-se molhada sim.
Como lavar e secar?
Os coletores podem ser limpos com água e sabão neutro a cada troca. Depois de cada ciclo, recomenda-se ferver por alguns minutos e guardar depois de estar completamente seco.
A maioria das marcas de calcinhas permitem lavagem na máquina, mas não recomendam o uso de secadora. A secagem padrão deve ser ao natural. Evite deixar no banheiro, onde há muita umidade. Fique atenta para que a peça esteja bem seca antes de ser guardada ou usada novamente. E não use ferro de passar. Para não comprometer a eficácia da absorção confira as recomendações de cada fabricante.
E em banheiros públicos?
Se você não tiver acesso à pia para lavar o coletor, limpe-o com papel higiênico. O lenço umedecido pode ser uma alternativa, de preferência aqueles sem perfume. Uma dica é leva uma garrafinha de água para passar no coletor. A calcinha já é mais complicado porque ela deve ser lavada imediatamente após o uso.
Quantas calcinhas preciso ter?
O número de trocas ao longo do dia vai depender do seu fluxo. Três calcinhas é uma recomendação padrão. Mas se você mora em cidades muito úmidas, como Porto Alegre, dependendo da época do ano, elas demoram mais para secar e talvez você precise de mais peças.