Camila Maccari, especial
Uma das perguntas que as gaúchas, de Santa Cruz do Sul, Camila Kist e Raíssa Assmann Kist mais escutam sobre a Herself, marca de calcinhas absorventes que desenvolveram é: “Como é que vocês não pensaram nisso antes?”. Para as jovens estudantes de engenharia, a questão faz sentido: foi a partir de uma tecnologia que já existia, usada na indústria têxtil, que elas criaram uma nova solução para os dias de menstruação.
– É um pouco retrato de como o mercado achava que, com os absorventes descartáveis de algodão, o assunto estava resolvido. A tecnologia tinha essa aplicação absorvente óbvia (as calcinhas absorventes), mas ninguém aqui tinha pensado nisso antes, apesar de, no Exterior, ser um produto comum – conta Raíssa.
Com matéria-prima totalmente brasileira, o produto da Herself parece com qualquer outra calcinha preta de algodão com detalhes em rendinha que você possa ter. Para aquelas mais céticas – ou donas de um fluxo intenso –, pode até ser difícil acreditar que dê conta de manter o sangue longe da roupa. Elas garantem que sim: cada peça tem três camadas de tecidos com tecnologia aplicada. A que fica em contato com a vagina é composta por algodão, com toque seco. A segunda, é feita de um tecido tecnológico absorvente e com ação antimicrobiana, e a última é impermeável, para que não ocorram os vazamentos.
A recomendação é de que a calcinha seja usada por um período máximo de 12 horas – três calcinhas já devem ser suficientes para dar conta de um ciclo durante dois anos, já que a duração da peça é de 48 lavagens. A ideia é que, nesse período, você deixe de usar 480 absorventes descartáveis.
– A questão ambiental foi nossa primeira preocupação: os absorventes são um problema muito grande para o meio ambiente e nosso projeto tentava apresentar uma solução para isso – conta Raíssa.
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A proposta logo foi abraçada por outro movimento: o feminista. O projeto da Herself começou a ser desenhado ainda em 2016, quando um número maior de mulheres já buscava por alternativas aos absorventes tradicionais, e o coletor menstrual vivia um boom de popularidade.
– Em grupos feministas do Facebook, por exemplo, a gente viu como as mulheres se sentiam contempladas com esse tipo de produto. A calcinha trazia uma sensação de liberdade muito forte, além de permitir falar sobre menstruação como algo natural – explica Camila.
Os grupos de Facebook foram, inclusive, um espaço de pesquisa inicial para Raíssa, Camila e Nicole Zagonel, que também fez parte da criação da marca: os espaços de discussão permitiram que elas entrassem em contato com mulheres do país inteiro e desenvolvessem as peças em “cocriação”.
– Mais de 800 mulheres responderam aos questionários dizendo o que esperavam de uma calcinha menstrual absorvente. Nessa pesquisa, entendemos como teriam que ser os primeiros modelos – conta Raissa.
O projeto foi viabilizado através de uma campanha de financiamento coletivo, e os primeiros protótipos foram entregues para mulheres da Região Metropolitana de Porto Alegre em novembro. O e-commerce está no ar há dois meses com as calcinhas Ceci, Frida e Zuzu disponíveis em numeração que vai até o 48.
– Essas são as primeiras, agora seguimos com o trabalho de cocriação, ouvindo o que as mulheres precisam para podermos pensar em novos modelos que deem conta de outras especificidades, como a calcinha com velcro para quem tem problema de mobilidade – conta Camila.
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