No último final de semana, um clique feito pela fotógrafa Michelle Oliveira chamou atenção nas redes sociais: o pequeno Bernardo, que nasceu no último domingo (4), aparece na foto segurando o DIU (dispositivo intrauterino) usado pela mãe, a carioca Paula dos Santos Escudero Alvarez, de 32 anos. O caso raro do bebê que veio ao mundo apesar do método contraceptivo foi publicado inicialmente pela revista Crescer.
Confira o registro:
Bernardo é o segundo filho de Paula, que teve o primogênito, Gabriel, hoje com três anos, enquanto tomava pílula anticoncepcional.
— Coloquei o DIU porque queria testar outro método contraceptivo, sem hormônio, já que havia engravidado com pílula. Coloquei o DIU em maio de 2018, alguns meses após o nascimento do meu primeiro filho — contou ela à publicação. — Nem posso reclamar, eles escolheram a hora. Ambos foram desejados, só anteciparam um pouquinho e vieram na hora que quiseram, mesmo com pílula e DIU.
Beatriz Tupinambá, obstetra que fez os dois partos de Paula, ressaltou à reportagem que o mais indicado nesta situação é tentar remover o DIU no início da gestação.
— Tentamos, mas o fio já não estava mais visível, pois o útero já havia crescido. Normalmente, o DIU fica grudado na parede do útero e o bebê fica protegido dentro da bolsa amniótica. Então, ele não tem contato direto com o DIU — explicou.
No entanto, há mais chances de parto prematuro, deslocamento de placenta, bolsa rota e abortamento. Felizmente, Bernardo nasceu saudável e o parto ocorreu sem intercorrências.
— Saiu o bebê primeiro e, depois, eu tirei o DIU. O dispositivo estava no fundo do útero — contou.
Agora, Paula está analisando qual será o próximo método contraceptivo que irá adotar.
— Não podemos correr o risco de termos mais filhos por enquanto. Meu marido pensou em vasectomia, mas vamos estudar mais sobre isso — relatou.
O que é o DIU? Entenda
É um dispositivo – também aparece com o nome de sistema intrauterino, ou SIU – em formato de "T", ou "Y" ou de ômega (como se fosse uma ferradura), colocado dentro do útero da mulher, que torna o ambiente uterino nada favorável aos espermatozoides. Há dois tipos: de cobre, sem nenhum tipo de hormônio, e o hormonal, conhecido pelo nome comercial Mirena.
O não hormonal libera cobre no interior da cavidade uterina, como explicou o diretor de Ginecologia do Hospital Pérola Byington, André Malavasi, em entrevista à GZH.
— Por uma ação iônica, ele diminui a motilidade dos espermatozoides, que não conseguem subir por que o ambiente fica hostil. E caso haja fecundação, o zigoto, que é o embrião primitivo, não consegue se grudar na parede do útero.
A versão hormonal contém 52mg de levonorgestrel (hormônio semelhante ao que a mulher produz quando ovula) e libera 20 mcg da substância por dia.
— A quantidade de hormônio é muito baixa, mas suficiente para ter efeito local. Para termos de comparação, a pílula do dia seguinte tem o mesmo hormônio, só que em uma dose de 1,5 mg — completou Malavasi.
Qual a eficácia do DIU?
Ambos têm uma taxa de falha muito baixa. O DIU de cobre tem falha de 0,6% a 0,8% ao ano, enquanto o Mirena tem de 0,2%, anualmente.
— A pílula comum, quando falamos de uso perfeito, tem falha de 0,3%. Mas no uso habitual, chega a 3%, pois sabemos que a mulher pode ter vômitos, diarreia etc — disse o médico de São Paulo.
O que pode acontecer é de o dispositivo estar mal posicionado, por isso não agiria de forma efetiva.
— Em qualquer série mundial, mesmo o DIU mais simples, de cobre, é 10 vezes mais efetivo do que a pílula. O que acontece é que o DIU pode ser mal colocado, ficar no canal e não no colo, e a paciente não fazer a revisão. Na maioria dos casos é por que não revisou e ele foi mal colocado ou ele venceu — destacou ainda o professor de ginecologia da UFRGS Valentino Magno.
Outra possibilidade é de mulher já estar grávida na hora do implante, o que pode gerar essa falsa conclusão. Também por isso é recomendado colocar o dispositivo durante a menstruação.
Para quem é indicado?
É recomendado para mulheres de qualquer idade, a menos que estejam grávidas, tenham malformações uterinas ou distúrbios como miomas, infecções pélvicas, suspeita de câncer genital ou sangramento anormal. Bom para quem não pode fazer uso de método hormonal. Diferentemente do que costumava-se pensar, não é exclusivo para quem já teve filho e não há restrição para mulheres após o parto.
Quais são os efeitos colaterais?
Aumento do fluxo menstrual, sangramento irregular e cólica, principalmente no período menstrual, são mais comuns com DIU de cobre. Já o DIU hormonal pode deixar a paciente sem menstruar (amenorreia), com sangramento em pequena quantidade, e propiciar aparecimento de acne e aumento da oleosidade da pele.
Dói para colocar?
O médico precisa pinçar uma parte do útero para que o objeto fique bem colocado, e isso pode ser bem dolorido. Para evitar efeitos colaterais, alguns médicos optam por fazer a colocação com anestesia (por sedação, intravenosa). No começo, o desconforto pela colocação é seguido de cólicas e sangramentos. Embora o período total de adaptação seja de 180 dias, é normal que o organismo se regularize após cinco ou 15 dias.
E se eu mudar de ideia?
A validade da eficácia do DIU de cobre pode chegar a 10 anos, enquanto o hormonal dura cinco. Mas, se você quiser retirar antes, não há problemas. O ideal é esperar seis meses, pelo menos – tempo em que os efeitos ainda estão se adaptando ao seu corpo. Depois disso, pode ser retirado no consultório, tracionando o dispositivo pelos fios deixados visíveis. Caso eles não sejam alcançados, pode ser necessária a sedação ou retirada em bloco cirúrgico.
* Com informações da ginecologista e obstetra Rosana Perin e da ginecologista e obstetra Clarissa de Andrade Amaral.