O príncipe Harry assegurou, neste domingo (8), em entrevista para a emissora britânica ITV, que decidiu publicar seu polêmico livro de memórias, Spare, para se defender após anos de vazamentos sobre sua vida nos tabloides. O conteúdo vai ao ar poucos dias depois da polêmica provocada por suas revelações sobre as divergências com o seu irmão, William, sua vida sexual e consumo de drogas.
— Durante estes 38 anos, muitas pessoas falaram sobre a minha vida de forma interessada. Isso me fez pensar que tinha chegado a hora de explicar a minha própria história (...). Deixei meu país natal com minha mulher e meu filho temendo por nossas vidas — disse ele, que renunciou às funções reais em janeiro de 2020, quando se mudou para os Estados Unidos com a família.
O lançamento mundial da obra está marcado esta terça-feira (10), mas grande parte do conteúdo vazou na quinta-feira (5), quando foi colocado à venda com antecedência na Espanha por engano.
Entre os detalhes divulgados estão a acusação de que seu irmão, William o teria agredido durante uma discussão sobre sua esposa, a ex-atriz norte-americana Meghan Markle, um relato de como perdeu a virgindade, uma confissão sobre o uso de drogas e a afirmação de que matou 25 pessoas em uma missão militar no Afeganistão.
Durante a entrevista veiculada neste domingo, mas gravada antes do vazamento, Harry voltou a acusar a família real de "cumplicidade" com a hostilidade dos tabloides contra ele e Meghan. Em entrevista à BBC, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, não quis fazer comentários sobre o escândalo.
Ainda no domingo, o jornal The Sunday Times citou fontes próximas ao príncipe William que dizem que ele está "triste" e "queimando por dentro". O sucessor do rei Charles III, no entanto, estaria em silêncio pelo bem de sua família e país.
Já o Telegraph acredita que, apesar do duro conteúdo do livro, o monarca estaria disposto a uma reconciliação como "a única forma de sair desta confusão". O periódico apontou também que, segundo um amigo próximo Charles III de ainda que Harry concentre seus ataques em William, não se sente "menos magoado por não ter sido pessoalmente o foco da maior parte da raiva e frustração do livro".
"Chorou uma vez"
Na conversa de pouco mais de uma hora e meia, Harry afirmou que ainda acredita na monarquia, embora não se saiba se terá algum papel em seu futuro. Vários dos canais que o entrevistaram já divulgaram trechos concentrados na disputa com seu irmão, William, e suas acusações de que sua família instalou uma narrativa negativa sobre ele e sua esposa na mídia.
No último vídeo, revelou que "chorou uma vez" depois que sua mãe, a princesa Diana, morreu e se sentiu culpado por não expressar sua dor, enquanto cumprimentava uma multidão. Em outros trechos, Harry afirma que William tentou agredi-lo durante a discussão sobre sua esposa.
— Vi esta névoa vermelha sobre ele — relata.
Sem função na coroação
Diferentemente de William, Harry não terá um papel formal na coroação de Charles, em maio, à qual se espera que assista, reportou o The Sunday Times. Em "uma ruptura importante com a tradição, Charles descartou o ato dos duques reais, ajoelhando-se para 'prestar homenagem'", escreveu, e "William será o único da realeza que manterá a tradição".
A emissora americana CBS transmitirá outra entrevista nesta segunda-feira (9), às 19h30min (21h30min de segunda, horário de Brasília) em seu programa 60 Minutes. E a ABC divulgará um terceiro programa também na segunda.
— Estranhamente, sempre houve competição entre nós — disse Harry à rede americana.
Os jornais britânicos criticaram a afirmação de Harry sobre ter matado 25 pessoas enquanto servia no exército no Afeganistão. Até mesmo um representante talibã condenou o príncipe por considerar os mortos "peças de xadrez".