Estava assistindo a um documentário sobre a vida e a carreira de Juscelino Kubitschek. Quanta ousadia, quantos sonhos loucos desengavetados e realizados! Ouvi esta música, que foi a trilha sonora da sua história e, ao mesmo tempo, pensei nos peixes incríveis que recebi hoje à tarde do meu pescador, o Plínio. Antes de qualquer coisa, um amigo.
Ele me ligou tão eufórico, tão feliz: chef, deixei uns peixes lindos pra você no Sud! Por favor, quando chegar lá me diz o que você achou? Estão maravilhosos, chef! Você vai gostar...
Eu cultivo relacionamentos fortes e duradouros com os meus fornecedores. São relações muito afetivas, muito além das relações comerciais.
Não é difícil me ver nas redes sociais gritando e pedindo para me ajudarem a salvar uma plantação de tomates! Ou de couves-flores! Salvar o queijo artesanal brasileiro! Aliás, nesse caso, conseguimos mudar uma lei arcaica de 1950! Feito histórico. Nada comparado com a construção de Brasília, mas também foi uma vitória da utopia!
Quando abri meu primeiro restaurante, o RS, lá se vão 16 anos, minha única certeza era de que a natureza tinha que ser ouvida. Foi tudo ousadíssimo para a época. O menu que mudava todos os dias, um cardápio único, uma mesa só, e uma regra imutável: quem escreve o menu todos os dias não sou eu, é a natureza! É o que o mar, o pescador, o agricultor, me disserem que está bom.
Acho que nunca liguei para os meus pescadores e disse: eu quero pargo, eu quero cherne! Sempre mudei o meu cardápio todos os dias, e sigo mudando até hoje no Sud, para poder continuar ligando para o meu pescador e dizer: o que o mar nos trouxe de presente hoje?
Hoje, o mar me trouxe grandes presentes! Ótimas notícias, carinhos, peixes fresquíssimos, e a certeza de que as relações precisam ser, antes de mais nada, profundas e transparentes, como as águas do mar...
Como pode o peixe vivo, viver fora d’água fria? Não pode!