Sempre que são divulgados os resultados de guias e prêmios internacionais, surge por aqui a seguinte pergunta: “Foi justo com os restaurantes brasileiros?”. Assim aconteceu com o Guia Michelin em maio, e com o prêmio dos 50 melhores da revista Restaurant, há dez dias. O questionamento é legítimo, e eu gostaria de ir um pouco além de aspectos como estrelas, rankings.
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Tais publicações, quando se referem ao Brasil, tratam de São Paulo e Rio, que de fato concentram os mais famosos chefs e estabelecimentos. Mas o país é bem mais diverso, e o que Michelin e 50 Best oferecem é um mero recorte. O primeiro, tem lá seus critérios de classificação, que nem sempre captam realidades locais; o segundo usa um método que dá peso extra a ações de comunicação e relações públicas. Bem, listas são referências, indicadores, não verdades absolutas.
Mas retornemos às indagações iniciais. Eles são corretos com o nosso mercado? Não poderíamos ter um três estrelas, ou mais casas na lista dos 50? Vejamos. A cena brasileira das metrópoles vai se tornando cada vez mais completa e consolidada. Não precisamos sofrer porque não somos “os melhores”, mas podemos crer que nosso panorama evolui ano a ano – temos é de seguir trabalhando. Penso que galgaremos novas posições quando nossos restaurantes tiverem mais público, quando forem mais percebidos e frequentados pelos próprios brasileiros – o que tem a ver com hábito e cultura, mas depende mesmo é da economia.
Periodicamente, lemos reportagens do tipo “temos o mais lindo litoral, mas poucos estrangeiros vêm para cá etc”. Não é só carência de divulgação. Enquanto tivermos deficiências em transporte público, aeroportos, educação, saneamento, segurança, ambiente de negócios, tudo afetará o acesso a praias, monumentos, restaurantes. Investir em RP ajuda, mas não basta: faltam metrô e segurança. Precisamos então parar e resolver tudo isso
primeiro? Não, mas é preciso que sejam processos paralelos. Um país melhor para seus habitantes o será também para os turistas. E atrairá mais olhares internacionais para suas belezas – e para a qualidade da sua cozinha.
** Luiz Américo Camargo é crítico gastronômico e autor do livro Pão Nosso
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