A mixologista Claudia Schumacher iniciou sua carreira nos Estados Unidos, há mais de 10 anos. Agora, no Brasil, ela dá consultorias para bares da Capital.
Como foi o início da sua carreira nos Estados Unidos?
Iniciei em Nova York, em 2008. Fui para fazer um curso profissionalizante em consultoria de imagem. Resolvi esticar minha estadia na cidade e, consequentemente, tive que arrumar um trabalho para ajudar a pagar o curso e a extensão do meu visto. Comecei como garçonete em um bar brasileiro e a fazer uns bicos preparando quase 200 caipirinhas por noite. Contatos foram surgindo até que consegui uma vaga de cocktail waitress em um bar lounge com drinks muito requintados. Eles não contratavam mulheres para trabalhar no bar, mas eu infernizava os gerentes para me darem uma chance. Um dos bartenders, que depois veio a ser meu marido, me viu trabalhando e disse que eu havia nascido para aquilo. Consegui a vaga, venci o preconceito e me tornei a primeira mulher naquele bar. A partir desse dia, fiz cursos, participei de workshops e fui aprendendo muito até me tornar expert no assunto. Passei por bares renomados até que fui para Nova Orleans, a capital da coquetelaria americana. Foi uma grande escola, aprendi sobre destilados, técnicas de bar e de gestão. Foram anos de estudo e dedicação. Como consultora, abri cerca de três casas em Nova Orleans e umas cinco em Nova York.
Falando de EUA e Brasil, você acha que há diferença na percepção das pessoas em relação às mulheres no comando dos drinks?
Sinceramente, percebo os brasileiros mais abertos às mulheres na posição. Existiam muitos bares nos Estados Unidos que não as contratavam por acharem que não tinham capacidade física para a função. Era uma constante quebra de barreiras. Aqui, existe um pouco mais de respeito, considerando que é um mercado quase 90% masculino.
Como é ser mulher e mixologista?
É desafiador. Eu sou feminista e bem ativista. A gente ainda ouve piadinhas machistas, homem que chega no bar, pede um destilado e quando tu opinas sobre marcas ele acha que tu não sabes do que está falando. O que mais me mata é o drink “mulherzinha”. Eu sempre digo que para isso não há gênero. Não entendo se querem dizer que é algo delicado, leve. Drinks são fortes, cheios de personalidade e preparados com muito cuidado. Talvez, fosse melhor perguntar se o drink é um “mulherão”, pois a descrição acima é apropriada para mulheres. E eu só bebo os fortes e com personalidades (risos).
Qual é o seu drink preferido?
Tenho fases. Agora estou no scotch com tônica e laranja. Antes era o gin tônica. E neste inverno acho que vou para o Rum Old Fashioned, que estou apostando bastante em cartas que estou elaborando pela cidade.
Você acha que nos últimos anos as mulheres têm ganhado mais espaço nesse mundo?
Muito mais. A gente deixou de se calar. Conquistamos nosso lugar na garra e na coragem. Tenho o maior orgulho de fazer parte desse grupo de mulheres que lutam pelo seu espaço. Infelizmente, ainda temos que nos impor, mas é uma luta diária que compensa.
Quais mulheres que te inspiram?
Julie Reiner e Audrey Sanders. Elas quebraram barreiras e se tornaram referências. Julie Reiner é proprietária do Clover Club, no Brooklyn, e Audrey Sanders do Pegu Club, em Manhattan. Ambas são ícones da coquetelaria americana.
Qual recado você deixaria para as mulheres?
Meninas, a gente nasceu sem nenhuma posição estabelecida. A gente pode e faz o que quiser. Somos capazes, fortes, competentes e não precisamos usar nosso corpo nem fazer charme para conseguir nada. Nunca baixem a cabeça nem desistam, por mais desanimador que seja. O mundo também é nosso e não vamos mais nos submeter à discriminação e ao assédio. Se imponham e ganhem seu espaço. Nós estamos juntas nessa luta!
* Conteúdo produzido por Victoria Campos