Gosto de olhar para o lado e ver que os meus maiores amigos seguem os mesmos desde sempre. Isso ajuda um pouco a contar a minha história, não esquecer de onde vim e quem eu sou. É um sinal de que tá tudo bem, seguimos na direção certa.
Indo no sentido oposto, dá para desconfiar de quem não tem mais amigos de infância, está sempre com uma nova turma. Uma eterna busca de alguém que faça sentido, quando, na verdade, a própria pessoa não faz sentido para ela mesma. Triste.
Enfim, um dos meus grandes amigos é o JP. Que baita cara, até hoje me ensina muita coisa. Um dos nossos momentos foi o mochilão que fizemos no final da faculdade.
Nos encontramos sem querer em Londres e resolvemos tocar a vida sem rumo, vendo onde iríamos parar. Para mim, terminou no final do verão europeu, em Barcelona. Para ele, tempos depois, ja que ainda foi para Índia, ficou mais um tempão zanzando, e só voltou para implementar uma grande ideia.
Esses tempos ele estacionou o bugão amarelo de barulho inconfundível na frente da minha casa em Torres e fomos surfar juntos. No trajeto, falávamos sobre os aprendizados profissionais que a vida nos proporciona e de coisas legais que cada um percebeu por aí ultimamente.
Me chamou a atenção a admiração especial que ele desenvolveu pelos japoneses, muito pela relação que eles têm com as coisas e a forma como levam a vida. Perguntei qual seria essa diferença, e ele me explicou de uma forma que me deixou muito chocado.
Lá eles vivem o presente de uma forma exata. Não remoem o passado, nem ficam angustiados com o futuro. Me dei conta de que é exatamente o contrário da maioria de nós. O tempo que perdemos com essas coisas é incalculável e não volta nunca mais.
Percebi que um dos momentos onde vivo o agora é justamente na frente de um prato de comida. O tempo para, me sinto diante de um jardim zen, aquelas caixinhas de areia japonesas, sabe? Consigo estar ali de fato, sem amarras emocionais nem fantasmas. Comida no prato, vinho na taça e uma boa companhia. Isso sim é viver corretamente!
*Diogo Carvalho é co-fundador do Destemperados