*Texto por Luiz Américo Camargo, crítico gastronômico e autor do livro Pão Nosso
Dólar alto, inflação, mais impostos sobre bebidas, consumidores ressabiados, empreendedores apreensivos com a política e com a economia... Seria o óbvio afirmar que essas questões marcaram 2015. Mas eu não quero usar o espaço da minha última coluna do ano tratando só de percalços. É verdade que a mesa do comensal e a cena da restauração vêm sofrendo com a crise. Mas também é verdade que alternativas foram se desenhando.
Se a farinha de trigo ficou mais cara do que os padeiros esperavam, o jeito foi diversificar e experimentar o blend do trigo com outras farinhas (milho, mandioca, arroz, para ficar em poucos exemplos). Deixar de fazer bom pão, jamais.
No universo de assados e grelhados, foi preciso cortar na carne? Depende. Este foi um ano de reencontro dos brasileiros com as partes ditas menos nobres. E sem perda de qualidade gastronômica. Com a melhoria dos rebanhos bovinos, cada vez mais caem as fronteiras entre carne de primeira e de segunda. Se a matéria-prima cumpre os requisitos de marmoreio e sabor, é possível reduzir o consumo dos caríssimos anchos e picanhas, abrindo espaço para raquetes, peixinhos e afins.
A descomplicação dos modelos de restaurante seguiu firme. A maioria das novas casas investiu mais na fórmula sem toalha e sem formalidade, deixando o luxo como um negócio de nicho. E, entre os menus, o executivo vendeu mais do que o degustação. Para 2016, o mercado deve permanecer nessa toada. Arrisco dizer que a onda, depois dos izakayas (botecos japoneses), também virá da Ásia, sob a forma de râmen, o macarrão com caldo.
Por fim, para quem tiver curiosidade para recorrer aos arquivos: em 2/1/2015, publiquei um texto futurológico, fantasiando sobre como teria sido o ano (leia aqui). Algumas coisas bateram. Outras, longe disso (afinal, eram desejos). Excelentes festas para todos.