Estamos todos exaustos, como se tivéssemos corrido umas sete maratonas seguidas, sem direito a tomar água entre uma e outra. Eu tenho a impressão de que o cozinheiro, hoje em dia, já acorda batendo os braços, como se tentasse se proteger de mais um afogamento. Foram várias ondas que tentaram nos encobrir, e todas as vezes que a gente se dava ao luxo de parar para respirar, lá vinha outra, maior do que a anterior!
Sinto os cozinheiros muito cansados, talvez mais emocionalmente do que fisicamente. Se bem que uma coisa está intimamente ligada a outra. Ainda estamos todos meio perdidos, um tanto desnorteados. A máscara sufoca tanto quanto as incertezas. Mas vamos remando!
Fiz minha primeira viagem na semana retrasada, fui a Recife participar do meu primeiro evento pós — será mesmo? — pandemia. Tudo foi estranho! O aeroporto, o avião, o hotel, o não poder abraçar!
Eu também me sinto perdida, acordo batendo os braços, com medo da onda chegar de novo. Mas não deixo de nadar. Tentar incentivar a equipe, às vezes, parece uma tarefa impossível! Desistir não está escrito na receita. Mas tirar leite de pedra, agora está! E vamos que vamos.
Ainda não consegui reabrir o meu restaurante. São vários os motivos. Estamos nos preparando, mas sempre parece que ainda não chegou a hora. Optamos por focar no delivery e conseguimos, inclusive montar uma cozinha linda exclusivamente para isso. Pareceu fazer mais sentido até aqui, apesar de contrariar algumas leis da física, digamos assim.
Outro dia eu li que a divina chef Alice Waters também ainda não reabriu o icônico Chez Panisse, em Berkeley, na Califórnia. Um templo da comida de verdade. Um oásis de coerência e onde a comida é elevada à máxima potência! Um lugar admirado por todo cozinheiro que se preze.
Na página do restaurante, Alice explica que sente que ainda não chegou a hora. Nossa! Me senti menos sozinha no mundo. Tive vontade de aprender a surfar! Quem sabe me ajudaria a dialogar melhor com a tal onda que vira e mexe me assombra? Na Califórnia é diferente, irmão, é muito mais do que um sonho. E a vida passa lentamente, e a gente vai tão de repente, tão de repente que não sente… Saudades do que já passou!