Quando eu ainda era uma mera estudante, abria o site do Destemperados em busca de lugares que, muito provavelmente, não me veriam tão cedo. Pizzarias, bares, restaurantes italianos, culinária francesa. Tenho na mente a lista que montei anos atrás. A partir dali, comecei a visitar os que me pareciam interessantes. Uma vez por mês conhecia um diferente.
Em 2020, por exemplo, descobri o Kampeki, em Canoas. Visitei uma, duas, três, quatro vezes, e, em nenhuma delas, tive uma experiência ruim. No ano passado, quando estava em teste para entrar no time de conteúdo do Destemperados, pediram uma experiência gastronômica que tivesse me marcado, não pensei duas vezes em escrever sobre eles. Fui chamada para fazer parte da plataforma e sempre falei muito sobre o Kampeki.
Nos últimos dias, fomos convidados para conhecer o novo serviço do restaurante: o omakase. Em tradução livre, significa “eu confio em você”. E, de antemão, posso dizer que você pode confiar de olhos fechados. O menu confiança tem um ambiente específico e pode receber até oito pessoas. É possível acompanhar todos os passos feitos pelos dois chefs, que se revezam para entregar os mais de 20 passos do jantar.
Então, vamos falar sobre ele. Ao sentar-se à bancada, você recebe um suporte para as peças, os hashis – que são dispensáveis em certo momento – e uma toalhinha para limpar as mãos. Iniciamos conhecendo os peixes e frutos do mar que seriam servidos. Os chefs explicaram que a seleção de pescados do dia define o que prepararão, já que a excelência de cada peça é a prioridade. Assim, nem todos os dias serão iguais, mas podemos afirmar que a qualidade se manterá. Um tabuleiro colorido foi apresentado. Enguia, cioba, robalo maturado, linguado marinado na alga kombu, vieira canadense, atum bluefin, barriga de salmão e polvo. Altas expectativas foram criadas, já que muitos deles eram inéditos para mim.
Começamos com uma salada de algas e shimeji. Confesso que não sou muito fã da textura das algas, que é um pouco gelatinosa, mas estava bem temperada e refrescante. Logo nos entregaram os sashimis. Todas as lâminas estavam perfeitamente frescas.
A primeira surpresa da noite ficou por conta do kotsuzui. Se você, como eu, não fala japonês, não deve ter ideia do que é, mas os chefs nos explicaram – e o tradutor confirmou: medula óssea. Isso mesmo: medula óssea de atum servida sobre shari – arroz japonês – e shissô – erva asiática. A textura era gelatinosa, mas com muito sabor.
Na sequência, provamos o daikon maki. A peça é bem interessante e merece uma chance entre as minhas preferidas. Chutoro – parte mais próxima da pele do atum, que concentra bastante gordura –, robalo e haddock envoltos em folha de nabo em conserva.
Provamos também uma ostra com molho ponzu de yuzu – uma fruta cítrica chinesa – e ova de bagre. Eu, que sempre tive um pé atrás com as ostras, gostei da combinação. Ainda na primeira parte, nos apresentaram o chawanmushi de camarão, um dos pratos quentes. Podemos defini-lo como um creme de ovos, chegando perto de um pudim salgado.
A partir desse momento, iniciamos a comer com as mãos, muito comum nas casas japonesas e restaurantes tradicionais. Os chefs do Kampeki, inclusive, visitaram muitos locais do Bairro da Liberdade, em São Paulo, onde se concentra a maior comunidade japonesa do mundo fora do Japão, para trazer a Canoas o mais próximo possível da cultura. Diversos niguiris foram servidos, como cioba com picante de nabo, linguado no kombujime, vieira selada na gordura de wagyu e finalizada com ikura – ovas vermelhas – e flor de sal, enguia braseada, polvo e por aí vai. Um, em especial, logo tomou o primeiro lugar do meu pódio: chutoro com foie gras, finalizado com teriyaki. Sensacional.
De sobremesa, outra surpresa. A Umi no Nami – ou onda do mar, na língua japonesa – tinha uma escultura de açúcar com tempurá de sorvete de gengibre por cima, farofa doce e calda de caramelo salgado de shoyu. Era equilibrado e muito bem construído. Por fim, um chazinho para digerir esse grande jantar, que deve ser reservado e custa R$ 279,90 por pessoa no soft opening.
Ainda não tive a oportunidade de conhecer outro omakase, tampouco coloquei os pés na Liberdade, mas os chefs Luca de Lima e Marcos Leão proporcionaram uma experiência que não deixou dúvida de que a culinária japonesa merece todas as honras e os reconhecimentos, principalmente se manejadas por pessoas que a admiram. Não preciso dizer que amei a experiência e que vou voltar, né? Eu sempre volto, Kampeki!
KAMPEKI SUSHI
Endereço: Rua Domingos Martins, 960, no Centro, em Canoas
Horário de funcionamento: de segunda a sábado, das 19h às 23h30min
@kampekisushi