Todos nós temos um sonho. Uma viagem para aquele destino que mexe contigo, um passeio de balão ou conhecer um artista que te inspira. Visitando restaurantes toda semana, nós naturalizamos algo tão bom, que é a sensação de experimentar o novo. São tantos pratos, sabores e drinks que aquele frio na barriga para conhecer uma novidade ou reviver um clássico deixa de ser tão frequente. Mas existia um lugar que era o sonho gastronômico de toda equipe: o Le Bateau Ivre.
Era o restaurante que despertava um misto de curiosidade, admiração e respeito em todas nós. Afinal, quando se trata do pioneiro em gastronomia francesa clássica no Sul, as expectativas vão às alturas. O Le Bateau é um dos restaurantes mais premiados de Porto Alegre, integrando, inclusive, a lista disputada dos 50 melhores do país, do Guia Quatro Rodas, em 2015. Exibem, na parede da entrada, todos os títulos colecionados até então.
O grande responsável por essa coleção honrosa foi o chef Gérard Durand, mas Porto Alegre não foi a única cidade onde o restaurante se instalou. Na década de 1980, o francês da região Provence veio ao Brasil para tirar férias. O que era para ser um passeio se tornou seu lar. Fechou as portas do seu restaurante na França e abriu o Le Bateau Ivre, em Porto Seguro.
Ele tinha um grande desejo de nomear seu negócio com o título do poema de Arthur Rimbaud, “O Barco Bêbado”, em francês, Le Bateau Ivre. E foi no Brasil que esse desejo se realizou. Antes de ancorar seu barco na capital gaúcha, o chef navegou por sete anos em Brasília.
Foi em 2002 que o restaurante deu vida a um casarão na Rua Tito Lívio Zambecari, no bairro Mont’Serrat. Gérard deixou seu legado de simpatia e paixão pela gastronomia, uma marca registrada no espaço do restaurante, hoje, comandado pelo chef Vitor Braga.
Percebi que se tratava de alta qualidade logo ao entrar. À primeira vista, está a cozinha aberta. Quem expõe o coração da casa assim, se garante no que faz. Os clientes podem assistir a finalização dos seus pedidos, como se fossem preparados num jantar caseiro.
Embora a primeira impressão seja de sofisticação, no fundo a principal inspiração do cardápio é a comida francesa feita pela avó do Gérard. Não é sinônimo de comida afetiva para nós, brasileiros, por isso na hora de escolher a indecisão bateu forte. As entradas, no entanto, foram unânimes: Camembert Gratinée Au Miel (R$ 65) e Tartare de Filet Mignon (R$ 65).
A bebida que nos acompanhou neste jantar foi uma novidade na carta, o espumante Máscara de Ferro Brut (R$ 160), produzido em Pinto Bandeira. Depois de experimentar as entradas, era hora de dar um veredito final sobre os pratos principais. O cardápio é dividido entre frutos do mar e carnes e, quando bati o olho, já soube qual seria o meu.
Minha certeza era que seria pato, agora, qual deles foi a questão. Fiquei com o Magret a la Sauce Vin D’epices (R$ 104), um magret de pato ao molho de vinho tinto e emulsão de foie gras. A Milene optou pelo Magret a la Sauce Orange (R$ 102), a versão com molho de laranja.
Outros pedidos da mesa foram o Poisson Madras (R$ 110), uma pescada amarela ao molho de curry, com chutney de manga e camarão grelhado, e o Steak Aux Poivres (R$ 104), uma receita clássica da França de filé mignon com crosta de pimentas. Este último pode parecer uma pedida apenas para os fortes, mas o toque apimentado é mais aromático do que ardente. Foram quatro excelentes pedidos, que destacam as combinações de sabores sutis da culinária francesa.
Dica: se sua intenção for pedir o carro-chefe da casa, o Filet Mignon en Crôute, é preciso reservar com 24 horas de antecedência.
No meio do jantar, decidimos pedir mais uma garrafa. A escolha da Máscara de Ferro foi certeira, por isso, repetimos a dose. Dessa vez, um brut rosé (R$ 160).
Ir ao Le Bateau e não pedir o Crème Brûllée (R$ 28) é como ir a Paris e não passar pela Torre Eiffel. Inaceitável e, por vezes, inevitável! A sobremesa é famosa mundialmente pelo barulhinho ao quebrar a crosta de caramelo que se forma na superfície do prato. A mágica é feita ao vivo, com o doce flambado na mesa.
Para completar, pedimos Profiteroles (R$ 39), um bolinho de massa carolina recheado com sorvete de baunilha e coberto por uma calda quente de chocolate.
Ah! se as crianças vissem o dourar das ondas,
Áureos peixes do mar azul, peixes cantantes…
– As espumas em flor ninaram minhas rondas
E as brisas da ilusão me alaram por instantes.
Assim como o poeta Rimbaud relata as viagens marítimas do seu barco, numa trajetória onírica e encantadora, da mesma forma é experienciar Le Bateau Ivre. Um jantar que todos os entusiastas da gastronomia deveriam provar. Reúne história, qualidade, técnica e um legado de amor pela comida.
Le Bateau Ivre
Endereço: Rua Tito Lívio Zambecari, 805, no bairro Mont'serrat
Horário de funcionamento: De terça-feira a sábado, das 19h30 às 23h. Aos sábados, almoço das 12h às 15h
Fone: (51) 3330-7351
@lebateauivrepoa