Almoçar no Mercado Público é uma viagem ao passado, percorrida através das memórias de personagens como José Carlos Tavares, o Zezinho do Gambrinus. Sua história com o emblemático ponto turístico começou aos 14 anos. Recém chegado de Bagé, conseguiu um emprego na famosa Banca D. De lá para cá, passaram-se 57 anos, sendo 41 no restaurante mais antigo do Rio Grande do Sul.
Meu pai, Amarilio, foi um grande frequentador da mesa um – a mais disputada do restaurante –, na década de 1980. Eu cresci ouvindo as histórias, várias incluindo o seu amigo Zezinho. Quando criança, lembro de ir ao Gambrinus e pedir o bolinho de bacalhau, que o garçom servia dizendo “o peixe é nacional, mas a batata é inglesa”.
Foi no restaurante centenário, também, que meu pai aprendeu a sua receita favorita: Bacalhau à Gomes de Sá, o prato oficial da família em datas comemorativas. Com isso, o Gambrinus é um dos culpados pelo meu interesse por gastronomia. Relato isso para provar que um restaurante não apenas serve comida, também constrói e conta histórias.
Voltando ao nosso personagem principal, Zezinho passou pelo Plaza São Rafael, Associação do Banco do Brasil e Tia Dulce, até se estabilizar como uma das figuras mais carismáticas do Mercado Público. Viveu os áureos tempos em que o prédio era reduto da boemia porto-alegrense. Nunca se afastou do posto, a não ser durante pandemia, quando teve que ficar em casa. “Tempos difíceis”, ele relata.
Eu acredito que o atendimento é determinante para o sucesso ou fracasso de qualquer lugar. Com tanto tempo de experiência, conhecendo o cardápio que apresenta de trás para frente, Zezinho, aos 71 anos, nunca deixou de dar o seu melhor.
– Recebo o cliente como o Cristo Redentor: de braços abertos. Quero que ele saia mais do que satisfeito, saia rindo –, afirma.
Para quem nunca encontrou com o nosso protagonista, ele tem 1,60m, cabelos grisalhos, é conhecido como “o último samurai de Bagé” e, a cada minuto de conversa, conta uma piada. Quando pergunto qual o seu prato favorito entre todos que oferece, ele não sabe responder. Começa a listar vários: Salada de Bacalhau, Linguado a Gambrinus, Salmão a Gambrinus... Realmente o cardápio é rico em frutos do mar, e, com a pandemia, passaram a ser ofertados também por delivery.
O restaurante mais antigo de Porto Alegre foi palco de muitos casos, que, Zezinho garante render um bom livro. Alguns de seus favoritos são sobre os casamentos que começaram entre um chope e outro no antigo salão com apenas 12 mesas.
– Eu atendia dois clientes que vinham sempre desacompanhados, uma senhora e um rapaz bonito, de olhos verdes. Certa vez, ele chegou e o salão, que naquela época era pequeno, estava lotado. Perguntei à senhora se eu poderia colocá-lo na sua mesa. Ela permitiu. Anos depois, fui padrinho do casamento –, relata.
Ele garante que o trabalho, mesmo depois de todos esses anos, segue excelente. Não gosta de passar muito tempo em casa, gosta mesmo é de ir para o restaurante, encontrar os clientes que viraram amigos.
Uma refeição saborosa, preparada com cuidado, é capaz de mudar um dia. Um atendimento simpático e atencioso também. A gastronomia transforma e os garçons são peça-chave dessa engrenagem. Lembrar da história do Zezinho é a nossa forma de homenagear, neste dia 11 de agosto, Dia do Garçom, todos que nos recebem sempre com um cardápio na mão e um sorriso no rosto.
Parabéns!