Comer um churrasco perfeito é um dos grandes prazeres da vida, com certeza. Sentir aquele sabor caramelizado pela brasa incandescente provoca uma explosão de sensações que fazem parte de uma experiência sensorial muito mais complexa e rica, que começa no preparo.
Você não faz ideia do quanto ter visão, olfato, tato, audição e paladar aguçados dá superpoderes, desde a escolha da carne até a sobremesa. Sem falar no ritual e nas sutilezas da organização deste banquete, que é o assado.
Então, se você é o assador ou a assadora da turma e ainda não se deu conta da importância dos cinco sentidos – inclusive o sexto – para protagonizar o preparo de um assado de respeito, está na hora de valorizar esse potencial.
Eu, como professora de churrasco, posso afirmar que, muito além das técnicas, que são fundamentais, a utilização do fogo vivo, da brasa incandescente e das chamas, requer uma sensibilidade que influencia na qualidade do preparo e nos conecta a um conhecimento ancestral, com memória afetiva.
Temos em nosso DNA a essência de caçadores-coletores e, no século 21, constantemente, nos bate aquela vontade de fazer uma fogueira. Claro que a tribo já está sendo chamada, seja por sinal de fumaça, pelo cheiro ou por um WhatsApp. Assim começam os rituais, que continuam com a escolha do cardápio e de toda a hospitalidade envolvida. E vamos combinar que cada detalhe faz a diferença na experiência que você vai proporcionar.
Começamos ativando os sentidos na escolha da carne e dos ingredientes. Aparência, cor, embalagem, validade, origem, textura, cheiro, peso, temperatura e frescor, só para citar alguns cuidados. Tudo faz sentido quando buscamos, não só a qualidade de todos os produtos, mas o melhor investimento.
Os cinco sentidos são irmãos da técnica assim que começamos a assar. Por exemplo, ao acendermos o fogo, com carvão ou lenha, já temos a primeira consequência de uma boa escolha. Se o carvão for muito esfarelado, troque de marca na próxima vez, pois vai queimar muito rápido, já a lenha, se não estiver bem seca, irá provocar muita fumaça. Tudo isso percebemos só usando a visão, a audição e o tato.
Viu como temos superpoderes? Seguindo em frente, é importante observar o calor certo para colocar a carne e os acompanhamentos. Isso se faz pelo tato, claro, mas a visão também é importante. A temperatura ideal irá trazer a transformação química necessária para criar a crosta perfeita e a caramelização, tudo o que a gente quer quando ativarmos o paladar. Sem falar no aroma que começa a tomar conta do ambiente, esse é outro sinal importante para observar.
Mas, tem algo que a audição nos ajuda a validar que as coisas estão dominadas. Basta prestar atenção no barulho da gordura pingando na brasa e no chiado da carne assando. Se não tivermos isso, pode ter certeza de que o fogo vai precisar de mais calor. Por sinal, a interação com o fogo precisa acontecer sempre, e o tato vai nos avisando quando é necessário abastecer a churrasqueira.
Quando chegamos no paladar, aí sim é a comprovação final de toda atenção e dedicação. O resultado passa pelas sensações no ponto da carne, na textura, no sabor, na maciez, na suculência, na temperatura e, claro, na alegria das pessoas, aproveitando o momento. Assim, todo o ritual vai acontecendo.
Os cinco sentidos trabalham a nosso favor para entregar o melhor churrasco do mundo para os nossos convidados. Para mim, o preparo é uma grande orquestra onde o maestro é a técnica, e os cinco sentidos são os instrumentos que a executam.
E a intuição? Ah, ela precisa estar sempre presente, inclusive, quando uma boa alma lembra de encher o copo da assadora ou do assador. Vale uma observação: quando faltar um dos cinco sentidos, os outros compensam, pode acreditar.
Por tudo isso, no seu próximo churrasco, ative seus superpoderes e compartilhe essa sabedoria com a sua tribo. Foi assim que chegamos até aqui.
Ótimo churrasco, meus amigos!