Em constante evolução, a gastronomia local sempre buscou se adaptar às tendências de consumo ao redor do mundo e aos hábitos dos consumidores que mudam a todo momento. Mais do que considerar o alimento como uma forma de sobrevivência, a experiência em volta da comida passou a ter muito mais importância na vida das pessoas.
De acordo com uma pesquisa da Euromonitor, que elenca as principais tendências globais de consumo, 56% dos consumidores se preocupam com experiências de compras mais personalizadas. E é exatamente isso que os mercados de bairro têm buscado oferecer: proximidade com o cliente, atendimento qualificado, produtos diferenciados e preocupação com a procedência, tudo isso aliado a um espaço aconchegante e familiar.
Naturais do interior do Rio Grande do Sul, os amigos Gabriel Drumond e Arthur Bolacell, quando se mudaram para Porto Alegre para fazer faculdade, sentiram que os mercados da Capital não tinham uma preocupação especial com o atendimento. A partir dessa percepção, em 2012, tiveram a ideia de criar o próprio negócio, o Mercado Brasco, com o objetivo de oferecer uma experiência autêntica, com atendimento humanizado e próximo do cliente.
– A gente percebia que os mercados que frequentávamos não ofereciam o melhor dos serviços. Então, decidimos que este seria o nosso diferencial: trazer a essência interiorana para a Capital com um atendimento acolhedor – conta Gabriel, sócio do mercado.
Com apenas 20 anos de idade na época, os amigos não tinham experiência alguma com a rotina de um minimercado, mas a vontade de empreender e de fazer um negócio para que os clientes se sentissem em casa fez com que o Brasco se tornasse “a sala de estar do bairro”.
A loja, que começou no Moinhos de Vento, com os próprios sócios atendendo em todas as frentes, hoje, conta com três unidades em Porto Alegre e mais de 70 funcionários envolvidos.
O mais recente negócio da marca, o Espaço Brasco, localizado na clássica esquina das ruas Vasco da Gama e Fernandes Vieira, no Bom Fim, reforça tudo aquilo que os jovens empresários buscavam há 10 anos: resgatar o espírito de vizinhança, criando uma relação com o cliente que fosse além do contato comercial.
O local, que reúne cafeteria, mercado, restaurantes, sorveteria e padaria, oferece uma experiência completa para curtir a qualquer hora do dia.
– Diferentemente de um food hall, onde a experiência gastronômica é o foco principal, aqui, temos a convivência como pilar. A partir dela, oferecemos soluções de gastronomia para que a pessoa passe o dia todo por aqui, seja para trabalhar, tomar um café, almoçar ou até para um happy hour – explica Gabriel.
O desejo de empreender no varejo também motivou Luiz Tegon, que, após 20 anos de uma carreira consolidada como executivo de uma multinacional, decidiu apostar na gastronomia e abriu o Motu Fancy Food (Rua Luiz Só, 215, no bairro Petrópolis), em setembro de 2021.
O nome que, na língua polinésia, significa pequena ilha de areia e coral, surgiu junto à pergunta: “quem e o que você levaria para uma ilha deserta?”. Esse é o conceito que permeia todo o negócio, oferecer uma curadoria especializada, reunindo marcas-desejo e os melhores produtos em um único lugar, tanto com opções locais como de marcas que ainda não atuavam no Estado.
Muito mais do que uma ida ao mercado para fazer compras essenciais do dia a dia, a proposta do Motu é fazer com que o cliente se sinta pertencente ao espaço e tenha uma experiência sensorial. Para isso, o empresário investiu em diversas pesquisas para decidir desde a localização da loja, qual a playlist ideal para o ambiente, até os produtos que estariam disponíveis nas gôndolas.
– O nosso negócio começa com um exercício de empatia para atender as demandas do cliente. Fizemos pesquisas para identificar quais eram as marcas mais queridas e mais desejadas de Porto Alegre. São elas que escolhemos ter aqui – ressalta.
Junto ao mercado, o espaço também conta com uma área superaconchegante ao ar livre para tomar um café sem pressa ou para aproveitar o dia de trabalho. Todos os dias a padaria recebe pães fresquinhos de padeiros parceiros, os fiambres são fatiados na hora e o café é feito com grãos de marcas locais. O cuidado com a procedência dos insumos é fundamental para garantir a qualidade do serviço do início ao fim.
Quando questionado sobre o que diferencia o Motu das grandes redes de supermercado, Luiz não hesita em dizer que é o atendimento. Cada funcionário foi treinado para conhecer todos os produtos, receber o cliente com atenção e auxiliar na compra, podendo até compartilhar dicas de receitas para preparar com os ingredientes.
– Queremos que o cliente se sinta especial, que perceba que pesquisamos quais são os seus desejos e anseios e que trouxemos o melhor para ele – afirma.
INCENTIVO AO COMÉRCIO LOCAL
Aproximar o consumidor de produtores locais é também um dos objetivos do Brasco. Gabriel conta que, no início, buscavam trazer tudo o que o cliente queria e, normalmente, os pedidos eram de marcas estrangeiras. Isso fez com que os sócios passassem a questionar a filosofia da marca, visto que os produtos vendidos também deveriam estar alinhados à proposta de ser um negócio da vizinhança.
– Por que temos que investir na cerveja famosa que vem da Inglaterra, por exemplo, sendo que temos produtos excelentes sem precisar sair da nossa cidade? – questiona.
No Motu, Luiz vê como uma oportunidade de desenvolver a indústria local, fazendo com que marcas regionais cresçam no mercado nacional e, as internacionais cheguem em lugares que ainda não estavam presentes.
QUAIS SERÃO OS PRÓXIMOS PASSOS?
Assim como os hábitos de consumo ditam muitos formatos de negócios, eles também são fundamentais para planejar os próximos passos. E, ao pensar no futuro, Luiz afirma, com convicção, que deseja transformar o Motu no maior marketplace de gastronomia do Brasil.
O e-commerce está em fase de teste para, em breve, enviar os produtos disponíveis na loja física para o país todo. O objetivo é investir no modelo “figital”, conectando a comodidade do online com a experiência do ambiente físico.