A boina de Matteus, gaúcho de Alegrete que está no Big Brother Brasil 24, deu o que falar na última semana. Na segunda-feira (15), quando o gaúcho colocou o acessório, Rodriguinho agiu com certo estranhamento e fez comentários sobre a boina com os colegas.
— É como se fosse um boné, sabe? — explicou Matteus, ao notar que o cantor apontava para a boina.
— Mentira, você vai na padaria com esse negócio aí? — questionou o cantor, que é paulista.
O comentário do participante não agradou os internautas nas redes sociais. Em resposta a Rodriguinho, a página O Mundo do CTG, no Instagram, chegou a compartilhar vídeos de gaúchos indo na padaria com o adereço, justamente por ser algo comum na cultura do Estado.
Para explicar a origem da boina e o que o acessório comunica quando é utilizado, GZH conversou com a professora Edineia Pereira da Silva, pró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura do Centro Universitário de Brusque (Unifebe).
— A boina teve uma usabilidade maior na Espanha. Em razão da colonização espanhola mais ao sul do Rio Grande do Sul, próximo da Argentina e do Uruguai, ela se tornou mais usual e mais tradicional na região da fronteira (a região de Matteus), onde se adotou mais a boina — explica a professora, acrescentando que o adereço esteve presente em conflitos por definição de fronteiras, como a Guerra do Paraguai.
Orgulho
Segundo Edineia, que fez sua pesquisa de doutorado em indumentária gaúcha, existe uma confusão em relação às tradições gaúchas e ao tradicionalismo organizado:
— O tradicionalismo gaúcho organizado tende a selecionar os fatos históricos e preservar as tradições que tem uma vinculação maior com a história do Estado. E a boina tem uma vinculação histórica maior no Uruguai e na Argentina. Mas não se pode esquecer que ela circula em todo Rio Grande do Sul há mais de 40 anos. Ela já é nossa, é um costume, é um elemento do folclore.
Ou seja, a boina não é um adereço oficial do traje tradicional do gaúcho, conforme o MTG. Mas não existe problema em usá-la no dia a dia.
— A boina é tradicional, mas não é tradicionalista como um elemento do MTG. Ela é funcional por causa do frio e, além disso, ela é simbólica e representativa, porque as pessoas utilizam com orgulho, faz parte da cultura e dos valores — salienta a professora.
Matteus levar o acessório para a casa mais vigiada do Brasil é uma forma de demonstrar o orgulho de onde saiu:
— O Matteus representa toda uma cultura gaúcha que não é limitada a uma fronteira do Estado. É uma cultura que representa toda a região do Prata. Não se limita a uma instituição, como o MTG, mas valoriza uma cultura da região dele e as suas influências.
Cultura gaúcha no reality
Edições passadas do BBB já contaram com participantes gaúchos, mas que não levaram aspectos da cultura assim como Matteus tem feito. Além de falar das vestimentas, o participante tomou chimarrão e o compartilhou com os colegas.
Será que a ida dele tem mobilizado os gaúchos mais tradicionalistas a assistirem ao programa? Foi a pergunta que Juarez Paiva, instrutor de danças tradicionais e criador de conteúdo na página O Mundo do CTG, respondeu:
— Matteus está conseguindo fazer com que os gaúchos assistam ao Big Brother. Os últimos gaúchos não representaram a cultura da mesma forma. Ele já tomou chimarrão na prova do anjo, buscou pratos típicos, como churrasco. Ele já explicou lá dentro sobre a boina, a bota, a bombacha, o poncho. Nunca teve isso dentro do programa de maior audiência da TV brasileira. Isso atrai os olhos do Brasil para o Rio Grande do Sul, para os nossos costumes. Está muito bacana a participação dele e ele é um guri ligado às tradições, tanto no CTG quanto na lida campeira.